2 de novembro de 2016

O Diário de Bridget Jones - Helen Fielding



Olá, pípol!

Depois de muito tempo querendo e só esperando a oportunidade para conhecer Bridget Jones, enfim consegui. O livro que foi publicado nos anos 90 apresenta o diário de uma das personagens mais queridas pelos leitores, uma mulher que sofre com os ditos "moldes" impostos pela sociedade, em situações que ainda podem ser vistas atualmente.

Bridget Jones é uma personagem querida por milhares de leitores em todo o mundo e agora tem seu diário republicado pela Editora Paralela, numa edição linda de capa e diagramação. Enquanto Bridget vive situações amorosos inesperadas e situações atrapalhadas, nós leitores acompanhamos tudo: nós estamos lendo neste momento o diário de Bridget. No diário ela conta sua paixão pelo seu chefe, o charmoso Daniel, por quem ela suspira durante seu dia-a-dia no trabalho. Conta também os problemas  familiares pelos quais passa, as desavenças principalmente com a mãe, que está o tempo inteiro tentando arrumar um marido rico para ela. Nessa tentativa de arrumar um namorado para a filha, a mulher apresenta o advogado Mark Darcy, um homem sério, com uma boa qualidade de vida, que tem um pé atrás com Daniel por um acontecimento do passado. Nesse "diário" também vamos acompanhar a luta de Bridget para perder peso e estar de acordo com os moldes de corpo perfeito, bem como a luta para parar de fumar e beber e controlar a ansiedade. Na companhia dos amigos (o clichê da amiga romântica e sonhadora, o melhor amigo gay e aquela amiga totalmente pé no chão) Bridget encontra conforto para superar e amenizar suas crises de baixa auto-estima e de idade, até que um romance inesperado aconteça. É um ano acompanhando a vida de Bridget Jones, até chegar à grande realização da mulher no ano seguinte.

Sou fruto da cultura Cosmopolitan, fui traumatizada por supermodelos e todo tipo de testes e sei que nem minha personalidade nem meu corpo darão conta do recado  se não forem bem trabalhados. (Pág.: 61)

O Diário de Bridget Jones é um livro que aborda com bom humor a história de uma mulher  que tem a auto-estima abalada, vivendo uma crise dos 30 e poucos anos, devido às imposições sociais que ditam o peso ideal, a maneira ideal de se comportar, a idade certa para casar, e que mostra a dolorosa realidade do preconceito das pessoas em relação a uma mulher que ainda não casou ou teve sequer um relacionamento duradouro aos trinta anos. Por essas e outras que a narrativa de Helen Fielding é tão necessária e dialoga perfeitamente com nossa atualidade.

Uma das coisas que mais me chamou a atenção na narrativa é a facilidade de sentir empatia pela personagem, que conquista você, mas também consegue despertar um sentimento de irritação, de ira. Digo que isso pode ser legal porque ao mesmo tempo que o leitor gosta da personagem e torce para que tudo dê certo para ela, quanto mais ela parece fraca, boba e irritante - porque ela é!- em alguns momentos, ele também pode se sentir apático e incomodado, e perceber que ele deseja para si totalmente o contrário disso. É como se fosse um arranhão para o despertar da consciência no leitor.

Bridget é a mulher de ontem, em contraste com a mulher de hoje, vivendo numa sociedade em que pouca coisa mudou se pararmos para perceber que o modelo ideal de mulher ainda é ditado pela sociedade. Bridget entende que precisa ser magra para os homens olharem para ela; a todo o momento a mãe da personagem aponta o modo chulo de falar, da filha ("Querida, não diga 'que', diga 'desculpe, o que disse?"), que também é criticada pelo modo de se vestir. A diferença da Bridget para boa parte das mulheres de hoje é que elas já se levantaram e lutam pela igualdade. E por falar em lutar pela igualdade o livro traz a personagem Sharon, que é uma das melhores amigas de Jones, é uma mulher totalmente desencanada das imposições e não se abala com as críticas e o olhar das pessoas sobre sua vida. Ela tem respostas para tudo e acredita que mulher para ser mulher não precisa necessariamente ser casada.

O livro teve sua publicação oficial em 1996 e na adaptação para o cinema trouxe a atriz Renée Zellweger como personagem principal. O longa tem uma trilha sonora maravilhosa, destacando All By Myself, música primeiramente cantada por Celine Dion, dessa vez interpretada pela cantora country Jamie O'Neil. A atriz que interpretou Bridget fez tão bem seu papel, que foi indicada ao Globo de Outro, em 2002, como melhor atriz - o filme também foi indicado na categoria de melhor filme comédia/ musical. No entanto, apesar do sucesso, ainda prefiro o brilho e os detalhes presentes no livro, que apesar de ter me deixado na corda bamba - entre o amor e o ódio - se fez uma leitura extremamente agradável.

O Diário de Bridget Jones é um livro totalmente atemporal, que mostra uma mulher totalmente refém da pressão social e da cultura machista que está presente em cada canto do mundo. E a autora usa essa mulher totalmente submissa a todas as expectativas sociais para mostrar o quão diferente você deve ser e o quanto você deve lutar para se sentir bem do jeito que é. Uma leitura divertida e ao mesmo tempo realista e atual.

XOXO,
Diih

31 de outubro de 2016

Pax, da Sara Pennypacker - A Paz na Guerra




Olá!

Você já descobriu o que te traz paz? Já descobriu qual a morada que te deixa em paz? Já descobriu o caminho que te leva à paz em meio à guerra?

Estou exatamente onde deveria estar e fazendo exatamente o que deveria fazer. Isso é paz. (Pág.: 107)

Dentre as abordagens que o livro traz, a paz na guerra, o amor e a ligação entre dois seres em meio ao caos - conflitos pessoais, conflitos de caráter e sentimentos - são as principais inspirações que marcam o texto de Sara Pennypacker, PAX, um dos lançamentos da Editora Intrínseca deste ano.

Pax e Peter são inseparáveis, há uma ligação muito forte entre eles mesmo quando, por algum motivo, se separam. Não importa onde estejam, o sentimento e a forte ligação entre eles fazem com que estejam sempre em sintonia. A raposa está agora perdida numa floresta porque o pai de Peter achou que seria melhor abandoná-la já que está indo para a guerra e o garoto, consequentemente, vai ter que morar com o avô - um velho rabugento, com um bom humor quase inexistente. No entanto, quando o garoto de 12 anos percebe que não conseguirá viver em paz sentindo a falta de sua raposa, enquanto ela está perdida e indefesa no meio da floresta, ele decide fugir da casa onde está morando para voltar ao local onde Pax foi deixada, para resgatá-la e levá-la para casa. Durante a árdua caminhada o menino acaba machucando o pé e vai parar na propriedade de uma mulher chamada Vola, que vai ajudá-lo a curar o machucado e a curar as feridas que traz consigo, causada pela mágoa; ela vai preparar o garoto para "luta", para saber se virar na estrada quando, enfim, sair de sua casa para continuar sua busca. Mas o garoto também ensinará muito à mulher, que perdeu uma perna na guerra e se martiriza por suas ações. No final, os dois descobrem algo mais sobre quem realmente são e moldam suas ações.

Enquanto isso, Pax conhece Arrepiada, uma raposa sagaz, traumatizada pelos maus tratos dos humanos, bem como seu irmão mais novo, Miúdo, além de Cinzento, uma raposa valente e que se torna companheiro de Pax. Juntos as raposas vão desbravar a floresta, fugindo dos humanos que estão colocando armadilhas e causando explosões. Nessa caminhada cheia de perigo, Pax aprenderá a caçar e conhecerá um pouco mais sobre suas origens e o seu habitat natural, o qual nunca conheceu pois vou levado por Peter quando ainda era bebê, depois da morte dos pais e dos irmãos.

Enquanto Pax e Peter tentam sobreviver aos percalços durante a caminhada tentando um reencontro, ambos vão descobrir um mundo novo e novos sentimentos. Vão descobrir mais sobre quem são e onde ficam seus respectivos lares.

Pax ocupa as prateleiras de livros infantis, nas livrarias. No entanto, ainda que seja direcionado ao público infantil, não se restringe apenas a ele. Esse  um livro para a criança, para o pai, a mãe, a família; é um livro para qualquer pessoa que, por ser gente, em algum momento torna-se um doente de guerra. O título, que é também o nome dado à raposa da história, está escrito em latim, e significa PAZ.

A narrativa de Pennypacker é leve, mas com um texto rico em significados, analogias, metáforas e referências. A autora escreveu um texto que pode ser considerado simples, mas de forma alguma simplório. E uma das coisas que mais me chamaram a atenção é que ela não subestima o poder intelectual e perceptivo da criança. Geralmente os livros infantis traz textos repletos de diminutivos e situações que são entregues facilmente ao leitor, e isso não acontece com Pax. É um livro que você se sente confortável durante a leitura e que deixa plantado na mente do leitor o desejo de refletir e ir mais além do que está dito em cada página.

A história gira em torno de Pax, a raposa, e Peter, o seu menino, que o pegou quando ainda era um filhote. Os capítulos são intercalados entre o garoto e a raposa, e podemos acompanhar o que cada um está fazendo nessa busca incessante pelo outro. A amizade entre os dois é uma das coisas mais lindas que você vai conhecer no livro e facilmente poderá pensar no seu cachorro, no seu gato, no seu bichinho de estimação, que faz você se sentir em casa, como se já tivesse encontrado um bom lar para viver. Num momento em que estamos frequentemente vendo pessoas - doentes de guerra - maltratando animais, a história de amor entre os dois seres, em PAX, e a ligação que eles têm de sentir o que o outro sente, de sentir a presença um do outro se faz inspiração para o leitor.

Peter tinha a estranha sensação de que ele e Pax eram um só. A primeira vez foi quando ele  o levou, ainda filhote, para passear. Pax viu um pássaro e começou a forçar  a coleira, tremendo como se estivesse recebendo uma carga elétrica. E Peter viu a ave pelos olhos de Pax: o incrível vôo veloz como um raio, em liberdade e velocidade absurdas. (Pág.: 23)

Além de trazer a questão da amizade entre o menino e a raposa - o ser humano, o ser animal - o texto aborda o caos causado pela guerra e a paz em meio ao caos que ela provoca. Mas isso não se restringe às guerras relacionadas à luta entre pessoas por territórios e espaços, mas sim à guerra que travamos o tempo inteiro na vida: o sentimento que a gente tenta domar e muitas vezes deixamos tomar conta de maneira negativa; a guerra entre o ser e o não ser - o quem sou? A dicotomia "bem e mal" também está presente na história, quando o enredo nos apresenta o entendimento de que nem todas as pessoas agem de maneira igual: não somos ruins, mas também não somos bons. Apenas em algum momento da vida aprendemos a controlar instintos, embora estejamos fadados a falhar de vez em quando.

Todo mundo tem dentro de si uma fera chamada raiva. E essa fera pode até ser utilizada para o bem. Muitas coisas boas vem da raiva que sentimos das coisas ruins, muitas injustiças são consertadas assim. Mas primeiro temos que descobrir como controlá-las." (Pág.: 222)

Sobre as referências que o livro traz, destaco a d' O Pequeno Príncipe, que tem como amiga uma raposa, que traz à tona a importância de cativar o outro. Além disso, Pax aborda claramente a questão da falsidade humana, do adulto e da criança - os adultos não entendem nada. Facilmente podemos lembrar do filme Marley e Eu e Para Sempre, que trazem a relação entre um humano e um animal e a ligação que existe entre eles. 

Pax é uma história de amizade, que encanta o leitor pela simplicidade do enredo, que se faz envolvente e cheio de surpresas. É um livro sobre a paz em maio à guerra, sobre a tentativa de levar a paz ao caos e a tentativa de encontrar a paz na sua moradia - um lar nem sempre é uma casa, mas às vezes pode ser uma pessoa. Uma história poética e encantadora sobre amizade, família e Paz. 

" - Afinal, você quer voltar para casa ou para seu bichinho?Dá no mesmo. - A resposta saiu espontânea e firme, o que o surpreendeu." (Pág.: 95)

XOXO.
Diih.


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