4 de março de 2016

O Gigante Enterrado, Kazuo Ishiguro


“(...) Prometa, princesa, que não vai esquecer o que sente por mim no fundo do seu coração neste momento. Pois de que adianta uma lembrança voltar da névoa se for apenas para apagar outra? Você me promete isso, princesa?”
Olá!

Hoje vou contar para vocês sobre O Gigante enterrado, narrativa do autor Kazuo Ishiguro, que também escreveu “Os resíduos do dia” e “Não me abandone jamais” – minha próxima leitura -, ambos publicados também pela Editora Companhia das Letras.

Gostaria de deixar claro que em todas as resenhas que escrevo levo em consideração minha leitura, livre de qualquer influência. Portanto, posso ter uma visão diferente das demais, contanto que seja coerente. O meu papel aqui no blog é passar para o leitor minhas impressões e opiniões, acerca da história, de maneira justa e verdadeira, respeitando a editora, que me cede os livros e confiam no meu trabalho, mas acima de tudo sendo fiel a mim porque só assim serei fiel a vocês. Ok?


O Gigante enterrado é um livro que carrega em si um enredo simples, mas muito bem desenvolvido. O cenário onde a narrativa se desenvolve é a Grã-Bretanha num cenário pós-guerra entre bretões e saxões, e após a queda do Rei Arthur – figura lendária, que de acordo com as histórias medievais comandou a defesa contra os invasores saxões no fim do século V. Nesse cenário caótico a população se encontra amedrontada, à mercê dos ataques de ogros e de uma névoa que causa esquecimento na mente das pessoas. Axl e Beatrice, um casal de idosos saxões, sofre com esse esquecimento, pois nem sequer se lembram do rosto do filho quando decidem sair de onde estão para procurá-lo. Cheios de dúvidas, lembranças vagas, mas sem perder as esperanças, os velhinhos partem de onde estão numa caminhada lenta, mas cheia de indagações e descobertas. Conhecem o senhor Gawain, fiel soldado do Rei Arthur, um garoto misterioso que se chama Edwin, além do guerreiro – um rapaz muito confiante de si e muito inteligente – Wistan, que segue sua jornada a fim de matar a dragoa que afunda o passado dos habitantes daquela população no esquecimento. Será que é uma boa ideia acabar com a névoa do esquecimento e relembrar o passado? Será que isso poderia colocar o amor de Axl e Beatrice à prova e destruir a paz que vive naquele lugar agora?

Narrado em terceira pessoa O Gigante Enterrado é um livro cativante, que apesar da simplicidade da narrativa e dos acontecimentos leva o leitor a um cenário brilhante, onde fatos históricos e fantasia dialogam perfeitamente. Os personagens são intrigantes e conquistam você desde o primeiro momento como, por exemplo, os protagonistas Axl e Beatrice, tão cumplices e gentis, que passam a ser um molde de união feliz e estável de um casal, mas num dado momento também um questionamento sobre como um relacionamento pode manter-se tão perfeito durante tanto tempo. Será que existe algo por trás daquele chamado de “princesa” que o marido faz para sua esposa a todo o momento?  

O uso de metáforas está presente na maior parte da história, que nas entrelinhas nos apresentam mensagens sobre amor, sobre o que fica depois da guerra e sobre a importância da memória, seja ela sobre a real identidade de quem somos ou dos grupos que vivem ao nosso redor. Além disso, a importância do perdão e o reflexo do ódio presente na sociedade estão explicitamente “desenhados” nas linhas que compõem a narrativa e que de alguma forma representa nossa realidade.


E o que dizer do Gigante enterrado? Ao ler o título do livro e à medida que avança na leitura você pode imaginar que uma narrativa que se envereda pelo mundo da fantasia em que fadas, ogros e outros seres folclóricos estão inseridos na trama, existirá também um gigante fazendo seu papel em algum capítulo. E você não está errado em pensar isso, embora esse gigante seja uma metáfora presente de maneira sutil em todos os capítulos e explícito nos momentos finais do livro. E essa será uma das grandes reflexões sobre a história.

Engana-se quem pensa que a leitura será sempre um mar de rosas. Apesar de o livro ser muito bom e cativante, como já foi dito, o enredo não conta com reviravoltas empolgantes, do tipo que prende completamente o leitor. O autor aposta na simplicidade dos fatos e nos pequenos detalhes que por sinal merecem toda atenção. Demorei um pouco para fazer a leitura porque de fato achei que em vários momentos a leitura ficou chata. No entanto, valeu a pena voltar e prestar atenção e ler até o fim.

Por fim, o Gigante enterrado – que ganhou uma edição maravilhosa da editora Companhia das Letras - é um livro para ser lido sem pressa, de coração aberto e com atenção. Apesar de ter uma narrativa simples há muito por trás de cada capítulo e dos diálogos dos personagens. O autor transforma simplicidade em algo grandioso e essa foi uma das características que mais me atraiu em sua obra, com essa leitura que marca meu primeiro contato com o Ishiguro.

Leiam, reflitam e se apaixonem.
Bjux 1.000!

     
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