28 de setembro de 2017

Chimamanda Ngozi Adiche: 'Sejamos Todos Feministas' e 'Para Educar Crianças Feministas - Um Manifesto'






Você já leu Chimamanda? 

Se ainda não leu começo o post de hoje dando duas dicas de leitura para que você possa dar um pouco mais de atenção aos discursos dessa "feminista feliz e africana".  E em seguida direi as razões pelas quais vocês deveriam ler "Sejamos Todos Feministas" e "Para Educar Crianças Feministas - Um Manifesto". 

Estamos mais do nunca acordando para os problemas sociais que nos afetam desde quando o mundo passou a ser mundo e a cultura passou a se desenvolver: gays lutam  pela aceitação e espaço; negros lutam contra o racismo, mulheres lutam contra o machismo. Deixamos de lado nessa postagem a discussão sobre sexualidade e raça, para focar no discurso de Chimamanda (que de alguma forma acaba tendo uma ligação uns com os outros) sobre feminismo, a luta diária pela igualdade de gênero. 

Primeiramente gostaria de pedir desculpas a todas as mulheres que porventura virão a ler essa publicação. Perdoem-me caso eu use algum termo de maneira equivocada e que cause algum incomodo. Nasci numa sociedade machista e luto todos os dias conta as atitudes e pensamentos machistas que muitas vezes tenho sem nem perceber. Portanto, estou aberto às discussões, opiniões e ensinamentos.

Hoje quando desci do ônibus para ir ao trabalho decidi seguir caminho lendo "Sejamos Todos Feministas" e fiquei impressionado com o que li. Tão impressionado que li andando. E à medida em que lia e me atentava ao que estava ao meu redor também, pensava em tudo o que estava escrito e nas crianças e seus pais que passavam por mim. Como seria o pensamento deles? Como esses homens eram com suas esposas e como elas eram para eles. O que essa criança escuta em casa? Esse foi o primeiro passo para que eu pudesse dar ainda mais atenção ao que estava lendo e continuar a leitura. Já nas primeiras páginas as palavras de Chimamanda me fizeram olhar para o que estava ao meu redor e refletir. 

Em Sejamos todos Feministas nos é apresentada uma versão modificada de uma palestra que Chimamanda deu em 2012, numa conferência anual focada na África. A nigeriana nos leva a uma reflexão acerca do que é feminismo, apontando que a palavra feminista e a própria ideia de feminismo é limitada por estereótipos. No discurso inteligente e cheio de exemplos, a autora contextualiza o feminismo nas diversas situações reais e nos leva refletir sobre "O que é ser feminista no século XXI?".Nesse ensaio Chimamanda parte de suas experiências pessoais para se fazer entender e despertar nos ouvintes/leitores uma reflexão sobre como se comportam perante a sociedade machista, onde a mulher está sempre à sombra do homem. 
"Hoje vivemos num mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa, a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atributos. Tanto um homem como uma mulher podem ser inteligentes, inovadores, criativos. Nós evoluímos. Mas nossas ideias de gênero ainda deixam a desejar." (Pág.: 21)
O discurso é elegante, direto e coerente. Chimamanda desconstrói o ideal de mulher criado pelas sociedades, aponta para as exigências sociais em relação a quem e o que a mulher deve ser e ao mesmo tempo provoca o leitor sobre o por quê de não cobrar ao homem também. E ela faz isso não de maneira aleatória. Ela apresenta fatos e argumentos muito bem desenvolvidos para justificar seus questionamentos. 

Uma situação na sala de aula, uma situação durante o passeio com um amigo, uma conversa com uma amiga ou um crítico. Todas essas situações nos são apresentadas e em todas elas são perceptíveis e preocupantes o machismo latente e a subordinação da mulher. É preciso dar atenção às palavras e compreender o significado de feminismo para lutar contra o que oprime as mulheres nessas culturas machistas. 
A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura." (Pág,: 48)
E temos que mudar nossa cultura partindo também da educação que damos às nossas crianças, o exemplo que damos a elas dentro de casa. É preciso falar com elas sobre feminismo. 


Em Para Educar Crianças Feministas Chimamanda responde a carta de uma amiga que a escreveu pedindo orientação sobre como educar sua filha como feminista. Nesse livro ela retoma a discussão sobre igualdade de gênero e dá quinze sugestões para criar uma criança dentro de uma perspectiva feminista. 

Uma das sugestões é que a mulher não se deixe ser definida pela maternidade. Há espaço para ser mãe e ser uma profissional. Ela também provoca o leitor para a importância da leitura, a importância de ler para e com as crianças. Ser bem resolvida com o emprego, ser "completa" e ter a humildade de pedir ajuda também são fatores importantes a serem levados em conta.

Outra sugestão de Chimamanda é a de fazer junto. O casal deve trabalhar juntos e cuidar dos filhos de igual para igual. E uma ideia interessante a ser frisada está na passagem em que ela diz que não se deve aplaudir o marido ou parabenizá-lo quando ele troca a fralda de uma criança ou ajuda a cuidar dela num dia qualquer. Ele está apenas fazendo o papel de pai, um dever que também é dele. 
E por favor abandone a linguagem da "ajuda". Chudi não está "ajudando" você ao cuidar da filha dele. Está fazendo o que deveria fazer.  Ao dizermos que os pais estão "ajudando", o que sugerimos é que cuidar dos filhos é território materno, onde os pais se aventuram corajosamente a entrar." (Pág.: 19, 20)
Um ponto muito, mas muito importante mesmo, está para o papel de gênero. Chimamanda sugere que não se deve nunca deixar de fazer ou simplesmente se sentir obrigada a fazer algo "porque você é menina". 'Porque você é menina nunca é razão para nada.' E aqui ela discursa sobre os brinquedos que são produzidos para meninos e os que são produzidos para meninas; questiona o olhar preconceituoso que se tem para uma garota que decide brincar com um avião, ao invés de uma boneca, entre outras situações.

O comportamento exigido pelas sociedades e as culturas que moldam as atitudes e formas de vestir de uma mulher também é questionado e criticado. Quando você dita o que uma pessoa deve ser, você está impedido que ela seja o que realmente ela é. E Chimamada só afirma isso com o exemplo que dá, de uma situação presenciada por ela.
"Uma jovem nigeriana uma vez me contou que passou muito anos se comportando "como menino" - gostava de futebol e não achava graça em vestidos -, até que a mãe a obrigou a abandonar seus interesses "de menino" e agora ela agradece à mãe por ajudá-la a começar a se comportar como menina. A história me deixou triste. Fiquei imaginando o que ela teve de abafar e silenciar dentro de si, o que sua personalidade perdeu, pois aquilo que a moça chamava de "se comportar como menino" era, na verdade, se comportar como ela mesma. (Pág.:26, 27)
As dica não acabam por aí, mas é muito importante que você entenda a importância de ler textos sobre feminismo, de buscar, de pesquisar e fugir do estereótipo de que a mulher feminista queima sutiã, odeia os homens, entre outros absurdos que ainda hoje é possível perceber no discurso de muitos. Compreender isso é o primeiro passo para sair desse lugar comum onde a mulher é colocada. 

Ler Chimamanda é inspirador. E libertador também.

Busque, entenda, falem, converse sobre feminismo. Reflita sobre o lugar que você ocupa, se é merecido. Onde você gostaria de estar? Onde você deveria estar. Atenha-se aos detalhes, porque por menores que sejam, eles podem sim fazer a diferença.

Bjão,


25 de setembro de 2017

A TRAIDORA DO TRONO - ALWIN HAMILTON #2




O último livro da trilogia de Alwin Hamilton já tem titulo e está previsto para ser lançado em março de  2018 e se chama "Hero at the Fall". Mas enquanto o livro não é lançado, aqui está a minha opinião sobre o segundo livro da trilogia, "A Traidora do Trono", uma publicação da Editora Seguinte. 

Olá, pípol!
Ano passado li A rebelde do deserto e gostei de fazer essa leitura, não só pela história em si, mas pela riqueza de detalhes na apresentação de grandes personagens da mitologia árabe e pela protagonista tão forte e empoderada. 


Em A Traidora do trono vamos acompanhar a continuação da história. Mas não do ponto exato de onde parou no primeiro livro.  Na segunda parte da trilogia algum tempo se passou (mais precisamente seis meses) desde o grande acontecido no final da primeira parte.  Amani se junta à rebelião para destruir o mal e por pouco a garota não sobrevive para continuar a luta. Em seguida, Amani é traída e acaba sendo presa, mantida no palácio do sultão. No entanto, a 'Bandida de Olhos Azuis" não descansa e passa a observar tudo ao seu redor, colhendo informações durante todo o período em que se encontra presa. E é aqui que está o grande perigo. Quando a garota, com toda sua ousadia, começa a observar e conhecer um pouco mais sobre o local onde está e as pessoas que habitam nele, ela se sente confusa. 

Quem realmente são essas pessoas? Será que são realmente maldosas? Será que Amani está lutando do lado certo e pela coisa certa? Provavelmente, perguntas como essa surgem na cabeça da garota. E então, a história continua.

|Como esse não é o primeiro livro da série, vou me ater apenas a comentar minha experiência e falar um pouco da construção da narrativa para não gerar algum tipo de spoiler inconveniente.|



Em relação ao primeiro livro devo dizer que há um crescimento muito grande da narrativa (que continua em primeira pessoa), em quantidade e qualidade. A história está mais bem amarrada, a narrativa ainda mais agradável e empolgante, mesmo não havendo tanta ação como no primeiro. E se na primeira parte da trilogia encontrei algumas lacunas, houve uma melhoria considerável para esse tipo de falta em "A traidora do trono". O que pega dessa vez são alguns erros inesperados na revisão.

Se ter romance? Tem sim, senhor. Mas não é o foco, embora você provavelmente encontrará alguma cena de beijo. No entanto, como disse, o foco não está no romance, mas nas reviravoltas para chegar onde se quer nessa luta contra o mal e contra a confusão que se instaura na mente da protagonista Amani. Aqui, o "mal" está em destaque; o leitor, assim como a protagonista, vai conhecer melhor o outro lado da moeda. E confesso que até mesmo eu me questionei se o sultão era realmente o vilão que eu imaginava. 

Nas primeiras páginas o leitor encontra uma lista com todos os nomes de personagens e qual o papel deles na história, o que para mim é mais um ponto positivo. Os nomes dos personagens não são tão fáceis de lembrar por conta da pronuncia, portanto esse "resumo" com os nomes dos principais personagens ajuda muito a refrescar a memória do leitor. E por falar em personagem teremos dois novos membros da rebelião com uma chance imensa de conquistar você facilmente.

"A Traidora do Trono" não não deixa a desejar em nada se comparado ao "A Rebelde do deserto", seu antecessor. Permanece uma história de qualidade, em evolução e cheia de informações culturais. Vale muito a perna ser lido. 

Os direitos da trilogia para o cinema já foram comprados pela atriz e cantora Willow Smith, e provavelmente será ela a interpretar Amani. Ainda não há uma data definida para o começo das gravações. 

Bjão,


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