13 de setembro de 2017

Minha Vida Fora dos Trilhos, de Clare Vanderpool




---- Olá,
um beijo, um abraço e meus desejos de ótimas leituras para vocês.

Já pararam para pensar se estão seguindo a vida em cima dos trilhos ou arriscando e saindo um pouco dele? 

Eu estou num momento da minha vida em que prefiro sair dos trilhos, assim arrisco mais, aprendo mais sobre mim, me desafio e desvendo mistérios da vida, assim como a personagem do livro Minha Vida Fora dos Trilhos, da autora de "Em Algum Lugar Nas Estrelas", Clare Vanderpool. O livro foi lançado no segundo semestre deste ano pela editora Darkside.

Em Minha Vida Fora dos Trilhos temos uma história que se passa no período da Primeira Guerra mundial e nos apresenta à personagem Abilene Tucker, uma garota de apenas 12 anos de idade, que precisou descer dos trilhos para seguir em frente. Na narrativa escrita por Clare Vanderpool nos deparamos com essa garota tímida e muito corajosa que fora mandada pelo pai para a cidade de Manifest para ser cuidada por um velho amigo conhecido, enquanto trabalha na construção de uma ferrovia. A menina não sabe por que o pai escolheu mandá-la para lá e não sabe também o por quê de ele nem sequer mandar notícias. Sem muito o que fazer, Abilene começa a pensar que sua estadia naquele lugar não será nada agradável, até encontrar uma caixa com alguns objetos e uma carta. Quem é o responsável por aqueles objetos e quem são aquelas pessoas que assinam tais correspondências? É a partir desse achado que Abilene irá embarcar numa viagem pelo tempo e buscará encontrar as respostas para suas perguntas. Ela vai descobrir muito mais do que imagina, não só sobre a história de dois rapazes, como também sobre ela mesma.

"Minha Vida fora dos trilhos" é uma narrativa rica em detalhes significativos para a trama. É uma trama linear, não apresenta grandes acontecimentos, mas grandes mensagens são passadas nas entrelinhas, através das reflexões da personagem. Narrada em primeira pessoa, pela voz da personagem Abilene, a história "tanto pode te levar de volta à infância como ao tortuoso caminho para o amadurecimento."

Mas não é só Abilene que tem voz na narrativa. No primeiro momento estamos no presente conhecendo os anseios e medos da personagem, bem como sua relação de muito amor e cumplicidade com o pai. No entanto, há uma virada no tempo quando um personagem começa a contar outra história que envolve dois rapazes que viveram em Manifest numa época diferente. 

Uma narrativa dentro da outra; duas história em apenas uma. Esse é um dos pontos altos da história escrita por Vanderpool. O outro ponto da trama que funciona como um convite e serve para entreter o leitor é o mistério que paira pela vida de Abilene e consequentemente de nós leitores. Onde está Gideon (seu pai), por que ele escolheu mandá-la para Manifest? E além desses questionamentos que serão revelados somente no final vamos entendendo, aos poucos, onde cada personagem se encaixa na trama. Volto a dizer que os detalhes são de suma importância e são também reveladores. 

Um dia Abilene está vivendo de cidade em cidade com seu pai, no outro ele decide que viver a vida caminhando pelos mesmos trilhos não é algo que irá beneficiar a garota, por isso ela é mandada pra Manisfest, para ser cuidada por um grande amigo de seu pai até que ele volte. E aqui está uma grande sacada. Chega um momento na vida em que é preciso sair dos trilhos e encontrar seu caminho, viver as dificuldades da vida e conhecer um pouco mais de si. Os desafios pelos quais Abilene passa agrega uma experiência necessária para sua vida e seu crescimento.

O universo criado para a história consegue ser misterioso e muito sombrio também. No entanto, em meio a esse ambiente cinzento, encontramos cor na imagem da infância "desenhada" pela autora. Temos Abilene e duas garotas vivendo aventuras e questionamentos que toda criança faz. E são nesses momentos em que revisitamos nossa infância e nossas brincadeiras; lembramos nossa capacidade criativa para contar e recontar histórias. E esse é uma das coisas mais bonitas que encontrei na narrativa.
"Eu ficava admirada como cada objeto havia entrado na história da srta. Sadie. Depois de todo esse tempo trabalhando na casa dela, havia conforto em saber que eu estava conectada às suas histórias. Por intermédio daqueles objetos que eu encontrei debaixo de uma tábua (...) eu estava conectado àquele lugar e àquelas pessoas." (Pág.:184)
Embora tenha encontrado muitos pontos positivos em "Minha Vida fora dos trilhos", não diria que esse é um livro empolgante, nem que a personagem Abilene é uma personagem cativante e marcante. A narrativa prende mais por conta do mistério do que por grandes acontecimentos (que não há). Alguns capítulos podem ser bem chatos, visto que são descritivos demais e com poucos diálogos, e nos levam ao mesmo lugar sempre: uma volta no tempo. Diria que a história que está por dentro da história é mais interessante do que a narrativa que está em primeiro plano. 

A edição do livro é linda, tem um trabalho de capa espetacular e um mapa da cidade onde se passa a história. As fontes mudam a depender do momento e da voz que fala na narrativa e isso não a deixa confusa. Também temos acesso a alguns jornais lançados na época em que a história se passa. 

Como uma escrita leve e agradável, Clare Vaderpool nos pega pela mão e nos envolve numa narrativa que, embora não seja tão empolgante e em alguns momentos pouco atrativa, nos apresenta a beleza da infância, de contar histórias, de viver essas histórias e de dar asas à imaginação. Uma história sobre amizade, união, amor e descobertas.

Beijos,
ótima leitura.


11 de setembro de 2017

Uma conversa sobre 'IT - A Coisa' (2017), de Stephen King



Feliz Segunda-feira, pessoal! ☆☆☆
Que feriado maravilhoso esse, não? Espero que tenham aproveitado muito. Eu aproveitei e adiantei muita coisa do trabalho. Paguei contas e também gastei muito (porque não sou de ferro).

E foi num desses dias de folga que aproveitei para assistir ao filme "IT - A Coisa", refilmagem de uma adaptação do livro de sucesso de Stephen King. E não, essa postagem não é uma crítica sobre o filme - até porque não sou nada legal fazendo crítica de filmes - é só uma conversa sobre minha experiência no cinema, sozinho (e sobre isso escreverei outra postagem), para assistir a essa "obra prima do medo"


Na cidade de Derry, no Maine, crianças começam a desaparecer e um grupo de sobreviventes se unem para combater o mal em forma de palhaço, que amedronta a todos eles. A história do palhaço e seus atos violentos é algo que acontece há séculos, e a cada 27 anos ele volta para aterrorizar a cidade. Ele voltou e você já pode "flutuar" também nos cinemas de todo o país.

☆ Gostei muito do que vi, digo só pra começar. Nunca me aprofundei na leitura de IT, sobre o que é a história ou coisa do tipo. Tudo o que sabia sobre "a coisa" é que ele é um palhaço assassino. Logo, quando cheguei ao cinema tudo era muito novo para mim e essa novidade me fez assistir ao filme com um olhar interpretativo sobre o palhaço: Porque um palhaço? Por que matar crianças? Por que se transformar em vários monstros?

Eu cheguei a várias conclusões e percebi que já estava tudo escrito de alguma forma (porque pesquisei muito quando cheguei em casa) , por isso o que vou dizer também não será tão novo para você que já conhece ou simplesmente já procurou saber sobre a história.

Eu amo metáforas e amo as alusões que Stephen King faz nas suas histórias. Se você for ao cinema assistir IT achando que será apenas mais um filme de terror com mortes, demônios e um passado comum a todos os personagens, em que uma pessoa é possuído por uma entidade numa casa onde alguém morreu, você estará fadado a se decepcionar. Particularmente não vejo o que refletir nesses filmes, que só me leva a um olhar religioso superficial. E é essa a diferença de IT. É filme de terror, mas problematiza questões sérias, faz você refletir, te arranha, te belisca. E isso independe do palhaço e do monstro no qual ele se transforma. Você é pego pelo psicológico. 

Uma criança sente medo. O medo, como você deve saber, é algo que todo mundo tem e se não for controlado tende a atrasar a vida de uma pessoa, impedir que ela siga em frente ou saia do mundo comum, realize sonhos. O medo é capaz de destruir alguém. O medo aqui é Pennywise. O medo é algo que a gente não vê, não pega, só sente. E a maneira como King escolheu para falar sobre isso foi dando vida a ele, e essa vida se materializa no palhaço dançarino, que é ridículo e muito malvado. Essa sacada me encantou.

A cada vez que as crianças sentem medo elas estão próximas de serem derrotadas. Então aqui ele me diz: busque, tente ser forte, encare-o! Sinta medo, mas siga mesmo assim ou você será destruído; ele irá engolir você.

O medo é um pai abusivo, por exemplo. A cada vez que o palhaço tenta atacar um dos personagens (mais precisamente a personagem Beverly), ele se transforma naquilo em que a garota tem medo: seu pai. Esse homem que abusa dela todos os dias, com uma mente doentia e psicótica. Somente quando ela encara os fatos e perde o medo é que consegue derrotá-lo. Ela enfrenta-o e mata seus demônios. E não só o abuso é citado na trama. O racismo, o bullying, o preconceito religioso, a violência... tudo isso está envolvido na história, se materializando no palhaço que mora no esgoto. 

Gente, eu me senti tão tenso naquela sala de cinema! Eu queria gritar, queria fazer algo. Me senti aflito demais - e olhe que é raro isso acontecer comigo. Eu amo filme de terror, mas nos últimos tempos tem sido a mesma coisa, tudo muito previsível e cansativo. Já não há mais novidades e esse tipo de sentimento, que finalmente consegui sentir assistindo It. Muita gente não gostou, acho que estão esperando justamente essa coisa comum, igual. Sei lá. 


Volto a dizer: gostei muito do filme (não li o livro ainda). E adorei a mistura de terror com uma dose generosa de sarcasmo, mais humor, mais situações a serem problematizadas. Amei as piadas tão cruas e cheia de acidez. Adorei aquelas crianças tão ousadas (em todos os sentidos) e tão inteligentes (não gosto de filmes que subestimam a inteligencia e ousadia as crianças). Assim como o amor e o ódio andam de mãos dadas, a graça (humor) e o terror também. E vou te contar, é uma mistura que dá muito certo. Mas só se você se propor a sair do comum para fazer um trabalho ousado e bem feito.

Amei forte! Assistam! ♥
E se você já assistiu me conte o que achou. Adoro conhecer opiniões.

XOXO,





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