11 de fevereiro de 2019

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO


Olá! ♥️
Como vai?

Se você ainda não leu com certeza já ouviu falar no livro de José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira, uma das obras portuguesas mais comentadas e aclamadas também no nosso país. Publicado pela primeira vez em 1995 o livro de Saramago é referência para autores mais velhos e os mais jovens também, apesar de narrativa incomum.


Tudo pode acontecer na vida, mas será que você já parou para imaginar como seria se em algum momento, numa atividade comum do seu dia-a-dia, você ficasse cego? Foi o que aconteceu com o rapaz no meio de um trânsito agitado, logo após a luz verde do semáforo liberar a passagem dos automóveis. E além dele, mais tarde, no dia seguinte... outras pessoas terão suas visões esbranquiçadas e nada mais será visto. Ninguém sabe o que está acontecendo, cogitam a hipótese de uma epidemia, mas não há problema algum que possa denunciar a cegueira dessas pessoas. E é no meio dessa agonia que a narrativa se desenrola.
"Num movimento rápido, o que estava à vista desapareceu atrás dos punhos fechados do homem como se ele ainda quisesse reter no interior do cérebro a última imagem recolhida, uma luz vermelha, redonda, num semáforo."
Abrindo mão do formato comum de narrativas, Saramago apresentou uma narrativa atípica, cujos discursos não se distinguem pelo uso de travessão, como de costume. O discurso direto e o indireto se misturam e se juntam ao caos que se faz a vida dos personagens da história tornando um texto muitas vezes confuso e acelerado. Isso devido também ao uso de letras maiúsculas para indicar que alguém está falando na primeira pessoa. Talvez a escolha da narrativa acelerada seja proposital e dialogue perfeitamente com os sentimentos que o leitor tem enquanto ler.

E é quase impossível não sentir-se abafado numa agonia incessante enquanto lê. As descrições e imagens criadas tem um poder catártico e nos insere naquela realidade facilmente, o que permite que o leitor se coloque no lugar do personagem e imagine como seria não ver nada de repente - a sensação não poderia ser mais desesperadora e agoniante. Se essa foi a intenção do autor ele chegou com louvor onde queria. 
"Conta-me como foi, o que sentiste, quando, onde, não, ainda não, espera, a primeira coisa que temos de fazer é falar com um médico dos olhos, conheces algum, Não conheço, nem tu nem eu usamos óculos, E se te levasse ao hospital, Para olhos que não veem, não deve haver serviços de urgência, tens razão, o melhor é irmos directamente a um médico, vou procurar na lista dos telefones, um que tenha consultório perto daqui."
Mas a cegueira da história passa longe de uma cegueira causada por alguma doença. À medida em que você lê percebe uma crítica certeira ao ser humano e seus valores perante a sociedade e ao próxima. É cegueira sobre enxergar e não querer ver, tapar os olhos para as mazelas e para a dura realidade de que o ser humano não é bom o tempo todo e que ele comete erros dos mais leves aos mais graves. A cegueira é completa, no que diz respeito ao outro e às questões políticas. Inclusive, talvez estejamos vivendo essa cegueira - o enxergar apenas o que lhe é conveniente ou enxergar até onde queremos. Cabe aqui um ditado utilizado no texto, é uma grande verdade a que diz que o pior cego foi aquele que não quis ver.
"A mulher do médico compreendeu que não tinha qualquer sentido, se o havia tido alguma vez, continuar com o fingimento de ser cego, está visto que aqui já ninguém se pode salvar, a cegueira também é isso, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."
Linguagem não tão fácil de ser lida, um texto necessário e extremamente atual. "Ensaio sobre a cegueira" traz à tona a realidade do ser - imperfeito - humano e muito dos valores que nos são perdidos durante a caminhada pela vida. Uma metáfora que belisca e nos faz sentir a agonia a qual nos permitimos viver de alguma forma.

Bjão,
até mais! ♥️
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