15 de março de 2018

Assista 'Com amor, Simon' (Love, Simon)



Olá,

Ontem (14) foi dia da pré estréia de "Com Amor, Simon", em Salvador, e eu tive o prazer de estar presente para assistir ao filme adaptado do livro de Becky Albertalli, "Simon vs. A Agenda Homo Sapiens"- no Brasil publicado pela Editora Intrínseca em fevereiro de 2016. Foi maravilhoso ver o que estava escrito ganhar som e imagem, com um elenco repleto de jovens talentosos que não deixaram a desejar.
Simon (Nick Robinson) é um adolescente de 17 anos, tem uma família bem estruturada, amigos inseparáveis e aparentemente leva uma vida comum. No entanto, ele sofre por guardar em segredo o fato de ser gay. Quando descobre que não é o único na escola a esconder sua condição, após ler a declaração de um colega até então desconhecido, o garoto passa a trocar e-mails com ele, que se identifica como Blue, e isso acaba nutrindo uma paixão entre os dois. Mas quando Martin, um dos alunos da escola, consegue ler os e-mails - por conta de um pequeno descuido de Simon - decide chantageá-lo. E então, as coisas ficam mais complicadas do que deveriam.
Um dos pontos altos de Com Amor, Simon é a leveza com a qual a questão da homossexualidade é tratada; é leve e é natural. Mas isso não se restringe apenas ao filme, como também ao seu texto de origem. A essência do que está nas páginas do livro consegue estar presente também em cada cena e no resultado final do longa. Revele-se para você mesmo e esteja pronto para encarar o mundo é uma das coisas pelas quais você poderá pensar quando entrar na casa, na vida de Simon, e viver suas amizades e suas aflições. Aflições não por não aceitar sua condição, pois esse não é o caso, mas por simplesmente não saber o momento exato de se revelar para as pessoas que amam. O medo de decepcioná-los, o medo de as pessoas não gostarem de quem ele é.

E essa é uma realidade de qualquer ser humano: todo mundo quer ser aceito no meio onde vive, ninguém gosta de se sentir deslocado. A gente quer mesmo saber que o outro gosta de quem a gente é. Com Simon não é diferente. E Nick Robinson conseguiu representar muito bem os disfarces de seu personagem.



A importância da família e dos amigos (que também podem ser como uma família) é enaltecida na trama, principalmente para os momentos difíceis pelos quais Simon vai passar na história. Seu abraço é essencial porque ela é nosso lar, nossa base e apoio. E isso faz do filme uma atração não só para o adolescente, mas para a mãe, o pai, os tios, os avós. E em matéria de representatividade, o filme - que apresenta semelhanças, mas também diferenças em relação ao livro - não deixa a desejar. Temos a forte presença de atores negros, que não estão apenas à sombra do protagonista, mas caminhando junto a ele.

A contextualização é excelente. A troca de e-mails, o uso das redes sociais e a maneira como ela é utilizada pelos jovens da atualidade (como meio de interação, de denúncia e até de ofensa) forma um retrato perfeito da adolescência da atualidade. A vida dos adolescentes na escola, as futilidades, os absurdos também estão bem representados e acompanhados de uma trilha sonora bem atual, digna de ser apreciada. Você poderá encontrar No, de Meghan Trainor, a Jackson 5.

É impossível que você assista ao filme e não lembre da sua primeira paixão e daquele medo comum a todas as pessoas que se deparam com um sentimento até então desconhecido. E não importa se você é gay, hétero, bissexual. Essa imersão que você fará através dos sentimentos de Simon, que te fará lembrar daquele primeiro momento com a pessoa porque foi ou é apaixonado poderá te fazer perceber que o amor é para todos, assusta a todos, não importa o sexo. Assim como a dor, as decepções também estão aqui para qualquer pessoa.

Uma das coisas que senti falta no filme foi as trocas de e-mail entre Simon e Blue. Não que não tenha existido, mas o grau de intimidade e as mensagens mais profundas e sentimentais ficaram de fora, então não dá para ver o quanto os dois garotos possuem uma afinidade maior. Isso é mais intenso no livro e provavelmente funcionou melhor.

Love Simon é uma história sobre descobertas e aceitação. Mas também é uma história sobre amor e sobre como esse sentimento é capaz de nos manter de pé nos momentos de adversidade. É sobre como o amor é capaz de nos preencher quando pensamos estar sozinhos.
"Todo mundo merece uma grande história de amor."
Sutil, engraçado e dramático na medida certa, Com Amor, Simon trata da relação homoafetiva de forma leve, longe do lugar trágico e estereotipado de algumas histórias que abordam o assunto e escorregam feio. Esse é um filme para você assistir rindo, suspirando de amor, mas atento às mensagens presentes em cada gesto e atitude dos personagens na trama. É para a família, um desafio para aqueles que ainda não se libertaram da doença chamada preconceito. Tem muitas questões a serem discutidas e repensadas.

Fiquei muito satisfeito com o que assisti e indico muito que vocês apreciem a grande estréia do filme, que acontecerá no dia 05 de abril nos cinemas de todo o país. Vale a pena conferir. Mas enquanto você espera, assista ao trailer e fique com um gostinho de quero mais (compre um Oreo para acompanhar):

    


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Um b-jão, volto logo

13 de março de 2018

'Um de nós está mentindo' e suas armadilhas



Olá,

Há pouco tempo a Galera Record fez uma grande divulgação do livro "Um de nós está mentindo", suspense escrito por Karen M. McManus, e teve uma resposta provavelmente satisfatória. Foi uma aposta e tanto, que gerou respostas positivas pela maioria do público leitor, de uma história com uma proposta intrigante, que poderia ter funcionado melhor se não fossem as perigosas armadilhas espalhadas pela narrativa, de maneira sutil, mas visíveis aos olhos de leitores mais atentos.

Temos no enredo a história de cinco adolescentes, colegas de escola, juntos na sala do diretor por terem aprontado durante as aulas. Mas isso não é tão importante porque o que mais importa vai acontecer pouco depois - assim de repente, não mais que de repente: um dos colegas acaba tomando um líquido que contém pasta de amendoim. O problema é que ele, Simon, é alérgico e sua alergia ataca tão forte que o garoto acaba vindo a óbito. A partir de então, todos que estiveram presente na sala passam a ser suspeitos pela morte do garoto, que decide fazer a Gossip Girl e publicar grandes e absurdos segredos dos próprios colegas e ridicularizá-los para a escola inteira. Sendo assim, todos que estão próximo tem motivos para querer acabar com a vida do rapaz.

A partir de agora a narrativa gira em torno da tormenta pela qual os adolescentes passam durante a investigação da polícia. Temos uma CDF, a rica da cidade, o jogador garanhão da escola e o traficante de drogas. A ambientação finalmente é tomada pelo suspense que o narrador cria para o leitor, que começa a se  perguntar quem foi o responsável pelo acontecido (isso se o leitor não matar a xarada no logo no início e descobrir o final da história). E então o problema começa.

Não me senti confortável com os personagens, eles são fúteis, suas personalidades que poderiam ter sido bem trabalhadas e problematizadas foram apresentadas de maneira rasa e chata, através da narrativa em primeira pessoa de cada um deles - há uma alternância de vozes dentro de cada capítulo. Mas atenção, o problema não é só a futilidade dos personagens, pois isso pode ser algo proposital, mas esse clichê com esse tipo de personagem merece ser muito bem trabalhado e não foi. O tempo dentro do espaço foi aproveitado de maneira monótona e sem muitas surpresas. Junte a futilidade dos adolescentes - típicos dos filmes de terror, copiados e colados aqui - com a narrativa vazia de cada um deles e encontre a maneira que lhe cabe para comentar sobre a história.

Dos personagens, o único mais complexo e digno de ser apresentado é o rapaz que já foi preso por tráfico de drogas. Aliás, "o traficante" Nate, sendo mais preciso. Ele passa por uma situação difícil na família desde muito novo, vive num ambiente com pais alcoólatras e envolvidos com drogas, uma vida de verdadeiro caos. Por sinal, te incomoda me referir aos personagens de forma taxativa? Se sim, parabéns. Foi assim que me senti em algumas passagens da história. A "voz" e o tom da narrativa é taxativa demais. Inclusive, as vozes me deixaram confuso em alguns momentos. Uns personagens ganham mais espaços que outros, que estão ali apenas como um apoio para as demais e até mesmo para a história que parece desnorteada.

Não posso me aprofundar em detalhes, pois a UM DE NÓS ESTÁ MENTINDO não apresenta uma narrativa complexa, tão bem elaborada, e eu posso facilmente dar spoiler se o fizer. Mas é preciso ter cuidado com as supostas "pretensões" e representatividade mal elaborada. Não funcionam, são perigosas. Nas frases que parecem mais simples, bobas e sem nenhuma relevância é que estão o perigo, as grandes armadilhas que merecem ser observados para que o leitor não caia e reproduza tamanhos absurdos.

Para terminar, infelizmente "Um de nós está mentindo" se mostrou uma leitura decepcionante. Temos aqui uma premissa atraente, mas que se perde na caminhada e se mistura a acontecimentos desnecessários. 
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