17 de novembro de 2016

APENAS UM GAROTO, BILL KONIGSBERG



Olá! 

APENAS UM GAROTO é o livro tema da resenha de hoje, que vem com um sabor de queria mais, poderia ser mais, mas não foi. Lançado pela Editora Arqueiro, o livro de Bill Konigsberg traz a história de um adolescente homossexual cansado de ser rotulado como 'gay', que deseja ser conhecido apenas por quem é, não por sua orientação sexual. Um ótimo assunto a ser abordado se a história fosse menos genérica e trouxesse um personagem menos preconceituoso e (ironicamente) taxativo demais, além de uma realidade de vida exageradamente perfeita.

Em Apenas Um garoto vamos conhecer Rafe, um adolescente de 13 anos de idade, que tem uma vida tranquila. Ele é gay, seus pais o aceitam desde o dia em que ele resolveu contar que estava apaixonado por um garoto, e o colégio onde estuda é livre dos atos 'violentos' do preconceito. Lá Rafe é muito bem aceito e respeitado por todo o colégio, inclusive. Mas isso para Rafe não basta. Mesmo com um pai e uma mãe tranquilos, nada preconceituosos, e uma amiga que também o ama, o garoto não quer viver num lugar onde todo mundo conhece ele como 'o gay' da escola, por isso decide se mudar para outro colégio, só para meninos, para começar uma nova vida e ser simplesmente Rafe. Lá ninguém saberá que ele é gay inicialmente porque ele esconderá isso de todos, pois deseja ser aceito no grupo esportivo. Ele esconde sua sexualidade até para o seu colega de quarto que também é gay. Até que previsivelmente Rafe se apaixona por um de seus novos "amigos" e todos os seus planos começam a dar errado. A partir daí Rafe começa a tomar um choque de consciência. 

Nos últimos anos grandes editoras vem abrindo as portas para o público LGBT e publicado cada vez mais livros com histórias que tratam de sexualidade e nos apresentam personagens vivendo seus momentos de "descoberta", de infortúnios na vida social, pela condição sexual que tem, o bullying que essa "minoria" sofre dentro e fora da escola, etc. Mas infelizmente nem todas essas histórias apresentam de maneira digna a vida de um homossexual, nem todas elas nos apresentam personagens dignos de admiração e de ser representante do público a que se refere. E apenas um garoto está na minha lista de não me representa

Em apenas um garoto temos um ótimo tema para tratar relacionado a homossexualidade. O autor apostou na ideia de que nós não precisamos ser taxados: antes de sermos rotulados como gays somos seres humanos iguais a qualquer outra pessoa. Até aqui tudo ótimo, ponto para a iniciativa. Mas o autor peca quando escreve uma história contra os rótulos e acaba rotulando ao mesmo tempo. É certo que Rafe, nosso personagem, representa um gay que comete um "erro", acaba se machucando e machucando as pessoas que gostam, e acaba ganhando com isso um choque de realidade no final de tudo. Mas ele é um personagem um tanto preconceituoso e digamos que se torna uma pessoa menos admirável que antes.

 Rafe é preconceituoso demais, taxativo demais, e o tempo inteira na história nega o que ele é simplesmente porque deseja ser aceito no time de futebol da escola onde estuda. Você realmente gostaria de ser aceito num grupo sendo aquilo que não é? Enquanto nós gays estamos o tempo inteiro lutando contra o preconceito e lutamos também por um espaço que seja nosso,  que nos dê a liberdade que é nossa por direito, me deparo com um personagem que tem uma vida toda estruturada, uma família que recebe ele do jeito que é, amigos que o respeitam profundamente, e mesmo assim ele tenta retroceder porque está sendo taxado por todos eles - diria ser isso um detalhe porque todos nós somos taxados por algo nessa vida seja você quem for ou o que for.

"Mas Dii, essa seria uma história sobre aprendizado? Porque todo mundo erra, talvez o Rafe tenha aprendido a lição depois". Ok! Se o Rafe assume quem é no final você só vai saber lendo, mas o garoto adquire uma personagem que não achei nem um pouco agradável antes, tão pouco depois. Rafa representa uma única parte dos homossexuais, aquele estereótipo de gay que não dá pinta, longe do meio, o famoso garoto discreto. É SOMENTE ESSA "CLASSE" QUE RAFE REPRESENTA. Todos os garotos que fazem parte da história também são altamente estereotipados e igualmente taxados. O que representa uma grande ironia porque volto a repetir: a história quer ser contra os rótulos, mas o autor pisou numa areia movediça que o fez escorregar feio e ser extremamente taxativo no seu texto.

Não vou deixar de dizer que o final do livro me surpreendeu, não serei injusto a ponto de dizer que vai ser de cara aquilo que você espera. Mas você saca o personagem que balançará a vida de Rafe facilmente: a personificação do clichê! O garoto grandão, bonitão, perfeito aos olhos de quem vê leva a melhor (detalhe ele é hétero curioso ou confuso), enquanto o amigo do personagem principal, um gay taxado como "estranho" é aquele do qual mal se fala e quando fala é apontando suas estranhezas. E falando dos discursos do texto, um dos poucos diálogos e passagens mais inteligentes e relevantes é quando Rafe discute na sala de aula, induzido pelo professor a diferença entre tolerância e aceitação. Inclusive, esse professor é um personagem nota 10, assim como os pais do protagonista.

Na verdade, tolerância e aceitação são duas coisas diferentes. Tolerar implica algo negativo a ser tolerado, não é? Mas e aceitação, o que é? (Pág.: 117)

E para terminar, um simples comentário sobre a construção da história: não é legal, é quase surreal. Talvez seja algo que nós gays desejamos muito, mas que não existe, que é um mundo calmo para nós, onde estaríamos livres dos dedos maldosos nos apontando, e criticando. Rafe vive nesse mundo. Ninguém faz nada contra ele, ele não é excluído, ele não sofre com o preconceito. Por favor, é importante que isso seja mostrado de maneira explícita e não genérica como está nesse livro. 

Infelizmente Apenas um garoto é um livro o qual você problematiza mais as situações do que se encontra dentro do que está sendo contado. Se você quiser uma história genérica e simplória, leia porque a narrativa é simples, fácil de ler (embora o personagem seja extremamente irritante). Mas se você deseja uma história que se aprofunda no assunto que se propõe de forma digna, esse livro não é para você. Esse livro não foi para mim. 

Peço desculpas se em algum momento fui grosseiro, mas é impossível escrever sobre isso sem me inserir, sem buscar meu olhar ainda mais crítico. Sou gay, fora do "armário" e de alguma forma luto todos os dias pelo meu espaço, pelo espaço dos meus. Foi doloroso para mim ver tanto preconceito e estereótipo dentro de uma livro que tinha tudo para ser muito bom.

XOXO,
Diih ♡

14 de novembro de 2016

‘ACHADOS E PERDIDOS', STEPHEN KING’ - #2 TRILOGIA BILL HODGES



Oi, gente!♡

Em maio deste ano postei a resenha de Mr. Mercedes |Leia Aqui|, o primeiro livro da trilogia Bill Hodges, um thriller policial do mestre Stephen King. Em Mr. Mercedes Bill Hodges, um policial aposentado luta para encontrar e prender o assassino da Mercedes, um homem que matou diversas pessoas ao jogar o carro em cima de uma multidão que estava à procura de emprego. O primeiro livro da série foi espetacular e o sucesso se repete em "Achados e Perdidos", o segundo livro da trilogia.

Em Achados e Perdidos vamos conhecer uma história sobre o poder da literatura de mudar vidas - para o bem, para o mal, para sempre. John Rothstein é um autor consagrado, um verdadeiro gênio da literatura e Morris Bellamy é seu fã. Mas o rapaz não está nada satisfeito com o final que Rothstein deu ao seu personagem preferido, tão pouco com a ideia de que o autor se aposentou e decidiu não mais continuar a publicar a história. Por isso, Bellamy decide invadir sua casa e roubar os cadernos que Rothstein guarda com inéditas produções. em seguida decide matá-lo. Depois disso, Bellamy esconde a caixa com o dinheiro que roubou e os cadernos, depois disso vai preso por estuprar uma mulher num bar e a justiça decide dar a ele prisão perpétua. Décadas depois, Peter Saubers, filho de um dos atingidos pelo assassino da Mercedes, encontra os cadernos e o dinheiro justamente no momento em que sua família passa por uma situação financeira ruim. Peter, com apenas 13 anos de idade, saberá imediatamente o que deverá fazer com esse dinheiro, mas sua decisão colocará toda a família em perigo trinta e cinco anos depois, quando Morris sai da prisão (pelo bom comportamento que teve). É então que o detetive Hodges entra em ação junto aos seus ajudantes, Holly e Jerome, para proteger o garoto e sua família da maldade do bandido que ainda mais perigoso e vingativo.

A qualidade da trama de King é incontestável e em Achados e perdidos ela é mantida, seguindo os passos do primeiro livro da série - embora tenha algumas ressalvas a comentar mais a frente. E o grande vilão da história é mais uma vez um rapaz cínico, violentamente frio e cruel. Uma das coisas que o autor sabe fazer é traçar a personalidade dos seus personagens para o bem ou para o mal. Neste caso, Morris Bellamy é um rapaz que vive numa família estruturada financeiramente, mas não tem uma boa relação com a mãe. Na sua adolescência e menor idade sofreu abuso sexual na detenção para menores infratores, o que só aumentou sua ira e alimentou sua característica de pessoa violenta o que facilmente problematiza a questão da punição do menor de idade e quem ele virá a ser no futuro.

O outro personagem, que vai bater de frente com Morris, é Peter, um garoto que vê os pais brigarem o tempo inteiro, principalmente depois que seu pai ficou impedido de andar depois de ter sua perna esmagada pela Mercedes que Brady dirigia. O garoto acompanhava sua irmã durante as brigas, distraindo-a, e de alguma forma, apesar de ser inteligente, tornou-se um garoto frio, mas sem perder a característica "bondosa" que tem, porém sem ser um garoto perfeitamente exemplar.


A narrativa continua sendo em terceira pessoa e também é dividido em partes (Tesouro enterrado, Velhos Amigos e Peter e o Lobo). Aqui temos duas histórias e uma quebra tempo: primeiro a história do assassinato do autor consagrado, John Rothstein e a história do bandido (uma alusão ao lobo) perseguindo o garoto (ironicamente a chapeuzinho vermelho, que saiu do caminho 'certo' para ir por uma trilha que o deixou vulnerável ao lobo) que encontrou o "tesouro" que ele roubou, que é quando envolve nosso detetive especial Hodges e se passa no tempo presente. 

Mais uma vez o leitor está diante de uma história agoniante e cheia de ação, mas contada de forma leve e original - a escrita de King é sublime e causa um feito inexplicável no leitor. Nada é forçado e as situações vão sendo complementadas, as histórias se encontram de forma natural. No entanto, algo nesse livro me incomodou. Durante muito tempo na história o pai de Peter, que foi vítima da Mercedes no primeiro livro (nós só vamos saber disso neste segundo volume), aparece no livro e durante a parte mais intensa ela simplesmente desaparece e não participa dessas cenas finais. A gente sabe onde ele está, mas fiquei inconformado com isso porque gostaria de saber o final dele também. Será que foi esse o sentimento de Morris quando viu o final do personagem em quem se espelhava? Ele simplesmente não aceitou. Ele não queria esse final, ele queria mais. 

Você entende o que King faz com você? Ele insere você de tal forma na história, que você começa a se colocar no lugar dos personagens e fazer parte da história. Mas King também peca, e pecou neste livro com cenas de lutas genéricas demais. Uma das cenas mais importantes e definitivas do livro é bem fraca e se sua escrita causa um efeito grande sobre nós, um dos momentos que poderia ser melhor deixa a desejar. 

Achados e perdidos é mais uma livro brilhante que desloca você do seu mundo real para viver as agonias de uma trama cheia de crueldade, injustiça, e com personagens e situações completamente reais. É a continuação da trilogia Bill Hodges, que antecede o último livro intitulado "Último turno", que já está à venda pela Editora Suma de Letras. Eu indico a leitura e convido você que já leu os dois primeiros livros a fazer essa última leitura comigo. Se ainda não leu, fica o convite para se aventurar e desvendar crimes cruéis, junto a Bill, Jerome e Holly.

XOXO,
Diih

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