Olá! ♥
Esse é para quem ama animais e para quem os rejeitam também. É para quem acredita que a gente descobre muito de nós mesmos através de uma narrativa, nesse caso a partir da voz dos animais. Eles que são tão subestimados, amados, mas também atingidos pelo egoísmo de boa parte dos seres humanos - uns de forma proposital, outros pelo simples fato de sermos falhos e egoístas mesmo.
Quando conheci Só os animais Salvam eu fiquei extremamente encantado pela premissa e pela sensibilidade com a qual a história foi apresentada, Estamos acostumados a ver o animal homem falar dos bichos, mas aqui a alma de cada animal ganha voz e desperta no leitor a consciência necessária para que ele reflita sobre suas atitudes perante a seu próximo, a ele mesmo e aos bichos também.
|"Nós humanos nos achamos o máximo, mas o que temos feito com o nosso mundo?"|
Essa é uma pergunta que o livro irá responder através de contos com fábulas, nas quais a alma de cada animal ganha voz, como já disse, e narram seus dias, as observações que fazem sobre seus donos e quem está ao redor, contam suas insatisfações, preocupações, entre outras situações da vida das pessoas no período da guerra. Em meio ao caos, os animais conseguem encontrar esperança e inspiração, numa das atividades mais significativas que nossa espécie já criou: a literatura.
Eles - os humanos, quero dizer - parecem acreditar que o que os separa dos outros animais é sua habilidade de amar, sofrer, sentir culpa, pensar abstratamente, et cetera. Estão enganados. O que os separa é o talento para o masoquismo. É aí que reside seu poder. Ter prazer na dor, tirar forças da privação, isso é ser humano." (pág.: 53)
O livro é repleto de referências a grandes autores, que acabam sendo personagens das histórias também. Uma delas é Virginia Wolf, numa fábula que aborda também a posição e imagem da mulher na sociedade. Tolstói também entra em cena, assim como o autor de "O Mochileiro das galáxias", Douglas Adams. Também há espaço para a questão do gênero, que está no conto da gata, que foi levada para o campo de batalha. Mas questões de fanatismo religioso e hipocrisia também são assuntos abordados nos textos, que mudam de tom a cada capítulos, já que cada um é narrado por um animal diferente, volto a repetir.
Ainda sobre a construção da narrativa a autora se preocupou muito com a questão cronológica e com a linguagem que está de acordo com cada época em que se passa a história.
Estamos diante de um tipo de narrativa que para alguns não é comum. Digo comum porque na minha trajetória como leitor, percebo que muitos colegas e amigos leitores não gostam/costumam ler contos e fábulas, logo não vou dizer de forma alguma que seremos envolvidos por contos que nos serão inspiradores por completo. Um conto sempre irá agradar mais do que o outro, vai de pessoa para pessoa. Cada um recebe de uma forma, compreende de uma forma e se sente tocado de acordo, talvez, por seus defeitos e falhas. Porque é impossível que não nos reconheçamos em pelo menos uma das narrativas.
Muitos podem pensar que esse é um livro de uma leitura fácil, mas se engana - assim como eu. Temos questões sérias, muitas vezes tratadas de maneira engraçada, mas são situações delicadas e muitas vezes parecem inacabadas para que nós possamos parar e refletir. Digo que é uma leitura difícil porque ela fala muito de quem nós somos e tem um poder catártico eficaz. É fácil apenas ser, difícil é parar para pensar e perceber que tipo de pessoa estamos sendo enquanto seres humanos.
Só os animais salvam é um livro especial e de alguma forma sensível, belíssimo. É encantador quando alguém tenta dar voz aos animais, que são seres tão subestimados na maior parte do tempo. Temos aqui um estilo de narrativa que pode não agradar a todos, mas que com certeza dá conta de fazer com que o leitor pare e pense suas atitudes. É uma leitura que vale a pena.
Bjux, ♥