1 de abril de 2016

{Autoral} O Recitar


Olá, pessoal!

Eu estava com saudade de publicar um texto autoral aqui no blog, mas tenho tido pouco tempo para me perder nos meus devaneios. Sendo assim, decidi postar um conto que escrevi lá em 2012, por um motivo que me encheu de felicidade essa semana: eu reencontrei a mulher que me inspirou a escrever esse conto, depois de quatro anos, estudando na mesma faculdade que eu. Foi uma surpresa e me deixou muito emocionado, visto que me lembrou do momento em que a vi pela primeira vez e da maneira como isso aconteceu.
Espero que recebam esse texto com carinho.


- ♥ O Recitar


Num pedaço de espelho quebrado ela se olha e começa a pintar o rosto de branco. Abaixada num canto da rua, enquanto pessoas caminham apressadas sem perceber o mundo ao redor, a garota com seus olhos expressivos e corpo magro pinta a face com uma tinta branca que lhe encobre todo o rosto, sem deixar à mostra a cor natural de sua pele. No passeio onde lhe serviu de moradia por alguns minutos havia também sua melhor roupa (ainda que no pano pudesse ser visto um furo nada discreto): um macacão preto que não lhe cobria as pernas por inteiro, um chapéu também preto no estilo Charlie Chaplin e um tênis All Star. A bolsa que carrega seus pertences, até então pesada, agora está vazia e firme em uma de suas mãos. Ela está pronta para mais um dia.

Com uma das mãos vazias ela pede a parada de um ônibus que vem passando numa velocidade razoável porque parece que alguém chegou ao seu destino. Uma senhora de cabelos grisalhos desce devagar com a ajuda de um rapaz, agradece ao motorista e desaparece no meio das pessoas que transitam pela cidade.  Ninguém sabe para onde ela foi, mas agora é hora de mais um passageiro entrar no coletivo, que não oferece lugar para se sentar, mas conta com espaço suficiente para que qualquer um possa transitar pelo espaço vazio. Quando entra no ônibus, já vestida com seu personagem, cumprimenta os passageiros com um bom dia feliz e espontâneo, e começa a recitar.

 Do barulho percebe-se o silêncio das vozes que se calam para prestar atenção na garota animada que espalha encanto pelos espaços abertos do ônibus. É como uma canção para os ouvidos e um carinho para a alma de quem acorda cedo para viver um dia de trabalho estressante.

- “Que garota talentosa!” – as pessoas ao redor comentam impressionadas, encantadas. Olhares atentos à espera de um pouco mais do talento admirável que explora o ambiente com propriedade, e possui um tom de voz altivo, capaz de intimidar e ganhar a atenção de qualquer um. Uma cidadã pobre de bens matérias, mas rica de palavras, expressões e gestos que se misturam com seu discurso poético.

Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Olavo Billac, Vinicius de Moraes. Todos esses poetas fazem parte do repertório de poesias recitadas por ela durante a viagem continua. O sertão, a fome, o preconceito e a falta de oportunidade estavam ali, pairando no ar do mundo injusto, da sociedade hipócrita, do discurso moralista, do desamor. Ecoam da voz emocionada e cada vez mais empolgada e enfática da mulher, enquanto ela é tomada por uma emoção que contagia cada um dos passageiros – os que escutavam música e desligaram o som para ouvi-la falar, os que liam algum livro, os que dormiam até. A cada intervalo de uma poesia a outra o público não recolhe aplausos, batem palmas com vontade, enchendo o peito da atriz de satisfação, enquanto ela agradece com os olhos brilhando, como se fosse capaz de entender a Via Láctea, como se pudesse ouvir, conversar, entender estrelas.

Agora é hora de passar o chapéu de mão em mão, às pessoas que estão sentadas. O que ela é? Garota, menina, mulher? Será que é tudo isso? Não se sabe de nada além de que ela veio do Ceará tentar a sorte num lugar desconhecido e desta forma está colhendo o fruto do seu trabalho. O barulho das moedas representam contentamento, prazer e admiração do público que não hesita em contribuir. Dez, cinco, vinte e cinco centavos, um real. Às vezes, talvez, nada de dinheiro, mas uma palavra de carinho daqui, um gesto, um incentivo de lá.

Agora ela agradece. As cortinas precisam se fechar, embora talvez, no fundo saibamos que o show deve – e irá – continuar em algum lugar ali fora, em alguma outra lotação da vida. A porta da frente do ônibus se abre e ela desce no ponto. Vai seguir seu caminho com a riqueza que possui, com as moedas que conseguiu, com a esperança que não há de morrer. Vai embora com a maior riqueza que se pode ter: aquela que está guardada na alma. E daqui vou seguindo meu caminho para a vida que me espera, nos pontos onde preciso parar, esperando ansioso por ela para mais um recitar.  

Diego França ©2012/ 2016

| LEIA a primeira versão do conto|

28 de março de 2016

‘Como Eu Era Antes de Você’, Jojo Moyes



Olá, pessoal!
Hoje o meu i está mais apaixonado do que costuma ser, tudo porque ontem eu comi muito chocolate (e quer coisa pra deixar a vida de alguém puramente amor?) e por que, enfim, li Como Eu Era Antes de Você, da Jojo Moyes. Estou me perguntando até agora por que demorei tanto para ler esse livro. E sei que muitos já conhecem, mesmo assim quero contar para vocês minhas impressões sobre ele. Vocês deixam? Prometo que foi falar muito bem dele.


Como eu era antes de você é um livro da Jojo Moyes, autora britânica que tem seus livros publicados aqui no Brasil pela Editora Intrínseca. Moyes escreveu também “A Garota Que Você Deixou Para Trás”, “A última Carta de Amor”, “Um mais um”, “Baía da Esperança”, entre outros títulos que são sucesso aqui no país também.  

***
Louisa é uma garota comum, divertida, falante, sem muita vaidade ou muitas perspectivas na vida e filha mais velha da família Clark. Namora Patrick, tem um relacionamento de amor e ódio com a irmã que tem um filho pequeno. O pai, um rapaz desempregado; a mãe uma mulher tradicional, mas muito amável. Sua Família é de classe baixa e é ela quem ajuda a sustentar a casa, porém acabou de perder o emprego em uma lanchonete na cidade. Na tentativa de dar a volta por cima e continuar com a responsabilidade de ajudar os pais, Lou segue em busca de um novo emprego, quando consegue uma vaga para trabalhar na casa dos Traynor. Lá ela vai tomar conta de William, um rapaz mal humorado, por vezes arrogante, características justificadas pela condição de vida que leva: devido a um acidente ele ficou tetraplégico. Louise terá que cuidar desse homem que tanto aproveitou a vida enquanto tinha todos os movimentos do corpo - ele sempre gostou de se aventurar, de viver sua liberdade, viajar, conhecer o mundo – e vai descobrir que a vida lhe trará surpresas, um sentimento inesperado e um desafio. Além disso, terá a chance de conhecer um pouco mais sobre si mesma e crescer como pessoa com a ajuda dele.

Como eu era antes de você é realmente um livro para ter destaque. Com um romance cativante e uma história tocante e envolvente, somos envolvidos numa trama simples, com algumas reviravoltas e uma pitada sutil de drama. Além disso, a narrativa conta com personagens tão bem construídos e tão reais que nos sentimos parte do que está sendo contado. Isso não só pela construção surpreendente - provavelmente é uma surpresa para quem vai ler Jojo pela primeira vez -, mas também pela maneira leve e convidativa com a qual a autora narra a vida de Will e Lou e todas as situações em que vivem juntos.


Se eu fosse definir em uma palavra diria que Como eu era antes de você é uma história sutil. Tudo acontece de maneira natural e despretensiosa e o leitor consegue perceber a evolução dos personagens sem muito esforço. Jojo Moyes tem uma característica nessa narrativa – não sei se em outras porque ainda não li – que é justamente a de sugerir ao leitor o que está acontecendo sem escancarar de vez o que está acontecendo. Por exemplo, o amor entre Will e Lou não é a todo o momento citado, os personagens não declaram seu amor a cada instante, mas o leitor consegue perceber nos gestos de cada um o sentimento acontecendo.

Logo eu que adoro um drama, declarações, cartas de amor com aquelas palavras que nos partem o coração e toca nossa alma profundamente aqui não precisei de nada disso para me sentir apaixonado, tocado e para sentir meus olhos brilharem. Desde Um Dia, e o casal Emma e Dexter, não me sinto tão conectado e tão tocado por uma história como aconteceu com a de William e Louisa – embora eu já tenha lido romances maravilhosos desde então. Acontece que ambas as histórias e seus respectivos casais são construídos para a ficção, mas são tão familiares e reais, que parece que não são personagens dentro de um livro, mas amigos que estão vivendo suas vidas sob os nossos olhos. Quer interação melhor?

Se você deseja uma interação melhor aguarde pelo filme que tem data de estreia prevista para o dia 16 de junho de 2016 e traz Emilia Clarke e Sam Claflin (Ó, Sam ) como protagonistas. Estou ansioso demais para conhecer a adaptação e me emocionar nos cinemas e enquanto isso não acontece temos a parte dois do livro, intitulado Depois de você, que embora não seja sucesso de crítica, não dispenso a oportunidade de fazer a leitura também.


De modo geral é impossível ler Como eu era antes de você (Me Before You) e não se sentir arrebatado pelo desejo de abraçar Will e de rir com Lou. É uma história que nos mostra um pouco das dificuldades que pessoas deficientes encontram durante a difícil caminhada, uma história sobre a vida, sobre decisões que podem mudar o rumo de tudo, mas acima de tudo uma história amor despretensiosa e livre de qualquer preconceito. Leiam! Apaixonem-se!  

Bjux 1.000!
Diih

Esse livro faz parte da leitura do Desafio I Dare You do mês de março.

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