Quando fiz três anos de idade, ganhei de minha mãe um LP que contava a história de uma menina de cabelos claros e corajosa, que caia num buraco e encontrava criaturas loucas e grandes aventuras. Sim, estou falando de “Alice no país das maravilhas”, de Charles Lutwidge Dodgson sob o pseudônimo Lewis Caroll. Desde então a menina que viajou pelo país maravilhoso não saiu nunca mais da minha vida. Ainda hoje sou apaixonado pelo conto e ando fazendo pesquisas sobre sua história, quem a criou e quando.
Em 2010 a escritora Melanie Benjamin, nascida nos Estados Unidos, lançou seu livro intitulado “Alice I have been” na tradução para o Brasil, “Eu sou Alice”. O livro conta a história de Alice Liddell, a garotinha em quem se inspirou Lewis Caroll para criar o conto “Alice no mundo subterrâneo”, logo depois transformado em “Alice no país das maravilhas”. O romance escrito por Benjamin retrata toda a infância de Alice; suas travessuras, dramas e tristezas. Passa pelos seus sete anos de idade, caminha pelo dia em que o Senhor Dodgson conta uma história, nos mostra o encontro, o amor pelo príncipe Leopold e a impossibilidade de dar continuidade ao romance, mostra também o relacionamento conturbado que Alice tinha com a mãe e continua a biografia narrando as mortes de seu irmão, sua tão querida irmã Edith, até o falecimento de seus pais e de dois dos seus três filhos, além da despedida do homem com quem se casou.
A biografia feita sobre a vida de Alice Liddell (contando, também, com uma grande parte ficcional como era de se esperar), nos mostra uma grande importância para o bom entendimento da Alice do conto publicado em 4 de julho de 1865 que, em muitas coisas se parece com a real, mas em outras não. Apresenta o por quê da mente sonhadora e viajante de Alice, sua ousadia e coragem e, até mesmo, um pouco de insolência por parte da personagem . Todas as qualidades e defeitos influenciaram para que sua história fosse contada durante um passeio pelo rio, acompanhada de suas irmãs e do Senhor Dodgson.
Ao final do livro, encontramos uma Alice em seus últimos dias de vida quando, depois de perder dois de seus amados filhos, despede-se do marido e quase se encontra com a pobreza. Nesse tempo Alice Leiloa a cópia original do conto e refaz a sua vida, agora tranquila e cheia de fama até o último dia.
Um romance lindo, cheio de sentimentalismo e graça! Apaixonante como o conto, a história de Alice também nos dá como exemplo o dever de sermos simples e de alimentar sonhos, mesmo diante dos infortúnios da vida; apresenta uma lição de coragem e superação e, mais ainda, nos ensina a lhe dar com as lembranças da vida.
Acho que, em determinado momento, todos nós temos que decidir quais as lembranças queremos conservar, e quais as que vamos deixar de lado. (BENJAMIN, 2010)
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BENJAMIN, Melanie. “Eu sou Alice” p. 340, cap.18. São Paulo; Planeta, 2010.