15 de maio de 2017

CUJO, Stephen King



Olá! 

Dizem que King é o mestre do terror, eu concordo. Mas concordo também que o autor é competente no que se refere a fazer o leitor questionar atitudes e escolhas, bem como sabe como escrever, além do sobrenatural, um terror psicológico como ninguém. Há sempre uma realidade muito crua  e "perturbadora" nos seus textos. Talvez a faceta de tocar a ferida do leitor  na questão ética e do caráter humano seja o monstro mais assustador criado por King e aqui está uma grande metáfora dele: CUJO.

Cujo é um são-bernardo que vive numa zona afastada da cidade, com Joe e sua família. Joe é um mecânico conhecido pelo bom trabalho que faz, mas não é muito gentil com seus familiares e vive uma vida cinzenta ao lado da esposa e do filho. É ele que concerta o carro de Vic, um homem trabalhador, que acaba de fundar uma empresa de publicidade na cidade de Castle Rock onde vive com a esposa, Donna, e o filho, Ted. O casal Vic e Donna Treton representa o modelo de família feliz, livre das desavenças e cheios de amor.  Até que as coisas começam a desandar quando a mulher se envolve numa relação com Steve Kemp, um homem extremamente grosseiro e maldoso. A vida desses personagens vão se cruzar em algum momento e entre fantasmas do passado (que pode ser um famoso assassino chamado Frank Dodd, o qual Ted Trenton morre de medo) e sentimentos de culpa e angústia Donna terá que enfrentar um dos maiores pesadelos de sua vida ao lado do filho porque o manso são-bernardo adquiriu uma raiva maligna e não vai deixar escapar fácil quem estiver ao seu redor. 
O morcego se encolheu e mordeu Cujo, rasgando a pele sensível do focinho em um corte longo e curvo, no formato de um ponto de interrogação. Um instante depois, moribundo, o morcego saiu voando aos trancos e barrancos para o fundo da caverna  calcária. O estrago, porém, já estava feito: a mordida de um animal raivoso é mais grave perto da cabeça. porque a raiva é uma doença que afeta o sistema nervoso central (...) E Cujo jamais fora vacinado contra a raiva. 
Cujo foi escrito em 1981, é um dos grandes sucesso de Stephen King e conta também com  uma adaptação para o cinema. O livro foi relançado no Brasil pela Editora Suma de Letras numa edição especial de capa dura, e uma entrevista com o autor no final. A narrativa conta com histórias secundárias, que inicialmente podem parecer não fazer tanto sentido, mas que no decorrer da leitura você percebe o quanto foram importantes. Num dado momento essas histórias se cruzam e o leitor percebe que detalhes mínimos fizeram a diferença e não estão ali de enfeite. Nós temos a história de duas famílias: uma que parece partida e a outra inteira. E temos também uma relação extraconjugal, as insatisfações, o egoísmo. Além do monstro do armário. E todas elas muito bem apresentadas no texto. Todas as situações fadadas a virar uma bola de neve e todas elas de alguma forma falam sobre a liberdade de suas escolhas e as consequências delas.

Por exemplo, uma relação extraconjugal só existe se a escolha for de ambas as partes na maioria das vezes. Donna estava ciente do que aquela escolha poderia causar na sua vida e na vida da família, mas mesmo assim seguiu em frente. Quando decidiu fazer diferente o problema monstruoso já estava causando estragos. Quando o marido descobre e sai de casa, a mulher tem problema com o carro e isso é mais um problema que a leva à casa do mecânico onde está Cujo, o grande "fantasma" materializado no cão são-bernardo, que pode ser a representação do monstro do armário, tão temido por Tad.

A linguagem muitas vezes escrachada de King e o sarcasmo que existe nas suas narrativas também está presente aqui, se misturando com a tensão da trama que não acontece de imediato. O inicio da narrativa é bem parada e pode até ser desinteressante para algumas pessoas. Mas acreditem, ela melhora consideravelmente. Os detalhes em excesso colocados no decorrer da narrativa nos aproximam muito da história e funcionam como pontes que nos leva a fazer um passeio pelas histórias, até que possamos estar mais envolvidos do que possamos imaginar.

Se você espera um livro assustador, com criaturas e seus poderes sobrenaturais, saiba que esse não é Cujo. Aqui o terror é psicológico, faz uma crítica às escolhas, ao egoísmo humano, e aos problemas que podem se transformar em monstros aterrorizantes. 

|A adaptação de Cujo para o cinema foi lançada em 1984 e foi dirigida por Lewis Teague. Sobre o filme eu poderia dizer que é um resumo bem feito do livro, que comumente nos apresenta mais informações sobre a história. Eu assisti e fiquei satisfeito. Levando em conta o ano em que foi lançado e a tecnologia da época, achei um filme bem feito.

Bjão,






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