24 de abril de 2018

Quem disse que Literatura infantil é bobagem?



Olá!

O preconceito está no mundo para tudo e para todos, não há para onde correr. As opiniões divergem, o bichinho da ignorância prevalece e assim nós seguimos a viagem nesse planeta. Mas às vezes é preciso abrir a boca e falar, gritar as coisas com as quais nos sentimos incomodados e insatisfeitos. É um direito meu? Sim. É um direito seu também.


Sempre gostei de ler, sou um rapaz que gosta do lúdico, de coisas relacionadas a sonhos e situações surreais. Gosto de contos de fadas, de histórias voltadas ao público infantil. Sim, eu tenho 28 anos e livros infantis me encantam, me fascinam e eu ainda leio. Mas qual é mesmo o problema nisso? Será que um adulto ler livros infantis é perda de tempo? Será que livros voltados para o público infanto-juvenil não diz nada, não traz nenhum tipo de aprendizado para o leitor adulto, que "já passou da idade de ler esse tipo de livro"?

A leitura é uma das coisas mais bonitas que o ser humano tem. Ela abre portas, no faz sair por elas e explorar universos paralelos. A leitura é tão rica, que pode nos levar ao passado e nos fazer entender quem somos no presente; ela pode nos fazer, por alguns instantes, voltar no tempo e perceber quem estamos sendo e quem não gostaríamos de ser. A "pureza" de um texto voltado para o público infantil torna mais leve o peso que trazemos nas costas, de um mundo caótico, prestes a nos corromper de alguma forma. Então, por que não lê-los? Por vergonha ou puro preconceito?

Estamos num momento de desconstrução, e ato de desconstruir é muito complicado quando temos conceitos enraizados, prontos para moldar e definir. Ainda há quem diga que somente o clássico forma bons leitores; ainda há quem olhe para o outro com cara de desdém por ele nem sequer ter lido um livro que todo mundo "deveria ter lido", e há quem entenda que o grau de maturidade do outro ainda é mínimo porque ele ainda lê livros infantis. E isso é lamentável. Se a leitura é também um ato de libertação, por que se trancar numa gaiola e se negar a enxergar o que bons textos, muitos deles simples, mas ricos, tem a dizer?


Ainda na minha vida acadêmica me deparo com olhares de desdém, com gente impressionada com minha felicidade em ler um livro infanto-juvenil. Nas aulas de produção de texto, por exemplo, enquanto todo mundo quer escrever textos difíceis e chocantes, que se aproximam do que poderia ser dito clássico, eu levo toda minha simplicidade de palavras e é perceptível que não agrada à maioria. Por vezes já cheguei a pensar que estava no lugar errado e me coloquei abaixo dos demais. Mas isso foi no inicio da graduação, agora não me importo de não ter lido uma quantidade considerável de livros clássicos ou de ser visto com uma pessoa imatura por ainda ler livros infantis.

Um texto simples pode trazer com ele riqueza de detalhes e percepções que fazem toda a diferença. É claro que é importante ler clássicos, é importante ler livros voltados para nossa faixa etária. Não é viável que esqueçamos de voltar para lugar onde nos é mais apropriado no momento. No entanto, se negar a ler livros infantis porque todos eles são carregados de bobagens é um deslize que o leitor pode cometer. Livros infantis não são bobos, eles carregam uma pureza perdida por nós, de certeza forma, na metade do caminho.

Negar-se a ler um livro infantil por achar que ele não tem serventia alguma para a nossa formação como leitor é o mesmo que acreditar que uma criança não tem nada a nos ensinar, nada relevante a acrescentar na nossa existência. Pensei nisso.

Um Bju meu,
com carinho.

22 de abril de 2018

'Jack, o estripador - Rastro de Sangue', um livro de Kerri Maniscalco





Olá!
Finalmente consegui concluir a leitura de Jack, O estripador - Rastro de sangue. O livro foi lançado pela Editora DarkSide, que trabalhou muito bem - mais uma vez - e nos apresentou a uma edição digna de aplausos. O livro escrito por Kerri Maniscalco tem apresentação do autor de livros policiais e de suspense, James Petterson. 

Withchapel é uma pequena cidade localizada em Londres, onde mora Audrey Rose. A garota não é do tipo que "leva desaforo para casa"e para continuar a fazer o que quer e gosta, Rose é capaz de passar por cima de tudo e todos se for necessário. Não importa a proibição do pai, ela sempre encontra uma forma de sair de casa para fazer autópsias no laboratório do tio. A sociedade (inglesa, século XIX) e suas expectativas também não importam para ela. Numa das aulas com o tio Jonathan, a jovem conhece um rapaz, Thomas Cresswell, que irá testar sua paciência e coragem, mas que será um aliado na luta para descobrir quem é o cruel assassino que está amedrontando as mulheres da cidade, assassinando-as brutalmente.

Baseado na história real de um assassino em série que aterrorizou as mulheres aos arredores de Whitechapel, em 1888, Jack, O Estripador - Rastros de sangue é mais uma narrativa que que bebe da fonte dos acontecimentos da época, e que insere no seu texto um dos criminosos mais famosos que já apareceu na mídia mundial. Numa trama que enaltece a mulher com uma personagem forte, decidida, contrária ao que se diz sexo frágil numa sociedade machista, o livro se faz um agradável cenário de mistério e empoderamento feminino.
"Eu sonhava com o dia em que moças poderiam usar rendas e maquiagem, ou maquiagem nenhuma e pudessem vestir um saco de aniagem se assim desejassem, para atuarem em suas profissões escolhidas sem que isso fosse considerado inapropriado. [Pág.: 35]" 
Embora Jack Estripador seja um nome famoso - acredito que qualquer pessoa já tenha ouvido falar - e de cara desperte a atenção do leitor que espera mais uma aterrorizante história que envolve o "personagem", o que realmente chama atenção é a personagem Audrey Rose, filha mais nova de um dos homens mais conhecidos na região, onde mora com o pai e o irmão, o vaidoso Nathaniel. Rose é tudo o que a gente espera de uma personagem nos dias atuais: a desconstrução da mulher submissa, do lar, que existe para procriar e, no contexto da época, para fazer bonito nas festas de pessoas de boa conduta social. No entanto, há alguns pontos negativos na personagem que pode torná-la chata e desinteressante em alguns momentos.

Junto a Thomas Cresswell, a adolescente discute ideias e traça maneiras de investigar e ir atrás do assassino, que costuma matar mulheres prostitutas que trabalham nas ruas mais escuras de Whitchapel. Sabemos que a época em que se passa a história é marcada por uma sociedade sexista, não muito diferente da de hoje em dia. E nesse contexto, temos então a personagem que irá lutar para fazer a diferença no meio das demais mulheres que ocupam suas tardes tomando chá no meio aristocrático onde vive. O problema surge a partir do momento em que algumas atitudes e discursos de Rose parecem forçados demais e, consequentemente, torna fraca a personagem dentro de uma proposta forte e satisfatória.

O destaque para Rose unicamente deixa de lado a questão de união das mulheres, quando as demais mulheres que aparecem na trama não ganham destaque em momento algum e por isso não conhecemos seus anseios, suas diferenças de opiniões. Senti falta do contraste entre  as personalidades em segundo plano com a de Rose, o que acredito que enriqueceria ainda mais a imagem e a luta pela emancipação da protagonista.


O grande desafio de Rose além de encontrar o assassino é saber lidar com a ousadia, mas também a maneira permissiva e justa com a qual Thomas Cresswell a trata muito diferente de seu pai e seu irmão. Esse é um casal que pode conquistar, e Thomas é do tipo que fazem os leitores suspirarem. A segurança do rapaz e sua audácia é o que faz dele mais atraente. E encontramos aqui, então, um dos pontos positivos do livro.

As descrições dos espaços e da sociedade da época também é um acerto de Maniscalco. É impossível não se sentir parte de Londres e viver a era Vitoriana nas descrições da autora. Fica muito fácil se sentir parte da história e ser um companheiro de Audrey Rose nas investigações e nos becos escuros por onde ela vai, no intuito de descobrir quem é o assassino. E por citar o assassino, o início da história destaca três principais suspeitos e com um pouco mais de atenção e menos com um olhar de obviedade você poderá sacar quem o responsável pelos rastros de sangue.  
"A morte não tinha preconceitos com coisas mortais como posição social e gênero. Ela vinha da mesma forma para reis, rainhas e prostitutas, com frequência deixando os vivos com arrependimentos. [Pág.: 32]
Rastro de sangue é o primeiro livro de uma série que trará outros personagens clássicos da era vitoriana e que apesar dos pontos negativos - e um final não tão interessante e digno como se espera -  se revela uma leitura instigante e cheia de mistérios, que promete prender o leitor até a última página, a fim de descobrir quem é o assassino.
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