22 de março de 2017

Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár



Olá, todo mundo! 
Quero iniciar o post de hoje falando para você que é um prazer poder escrever e dialogar sobre esse livro, sucesso desde a sua primeira publicação em 1907. Os Meninos da Rua Paulo é um clássico do autor Ferenc Molnár, foi traduzido para vários países e está sendo relançado no Brasil, desta vez pela editora Companhia das Letras. Uma história cativante capaz de conquistar o leitor pelo brilhantismo de fazê-lo reviver a infância e apresentar aspectos morais do ser humanos, bem como as consequências da guerra de maneira metafórica, divertida, mas também tocante.

Com uma linguagem dramática e por vezes engraçada, Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár, é uma história comovente de um grupo de amigos (Boka, Csele, Csónakos, Kende, Kolnay, Weiss, Geréb e Nemecsek) que lutam por um espaço para suas brincadeiras na Rua Paulo. As ruas de Budapeste, na Húngria, são habitadas pelos meninos que travam lutas diárias em defesa do 'grund', um lugar que poderia se dizer sagrado para eles, onde eles podiam brincar. As tarefas dos meninos da sociedade do betume consistia em molhar o símbolo da sociedade, o betume, através da mastigação, e defender o grund, que funcionava como uma espécie de quartel para eles, também local onde jogavam pela (um jogo que consistia em jogar  uma bola de um lado para outro com as mãos ou com ajuda de algum instrumento). Quando os camisas-vermelhas (pode-se dizer grupo rival) sem local para suas brincadeiras são impedidos de jogar pela, resolvem ocupar o pedaço de terra e inicia-se uma batalha em que o bom senso, o jogo limpo, a amizade e a lealdade são as principais regras na luta pelo espaço desejado.
Olharam para o terreno e para as pilhas de lenha, iluminadas pelo sol sereno da tarde primaveril. Via-se-lhes nos olhos que amavam aquele pedacinho de terra e estavam prontos a defendê-lo. Era uma espécie de patriotismo, como se, ao gritarem 'Vida o grund!', tivessem gritado 'Vida a pátria!'. Os olhos brilhavam, os corações transbordavam. (Pág.: 55)
Os Meninos da Rua Paulo não é, definitivamente, apenas mais um livro infanto-juvenil na estante dos clássicos. Quando você começa a ler o livro e começa a perceber que os personagens poderiam ser você, que a situação é atemporal e o cenário onde se passa a história poderia ser qualquer lugar, entende que a história é muito mais do que se espera. É um retrato da beleza da infância e uma denúncia à falta de locais para os jovens adolescentes se divertirem, principalmente pelo constante crescimento das cidades que abrigam grandes edifícios. Além disso, a história traz também valores que todos os jovens deveriam conhecer na transição da infância para a adolescência e levar para a vida adulta.


Você consegue imaginar uma guerra em que os participantes prezam pela verdade, pelos atos nobres, pela preocupação com o próximo na luta que gera a rivalidade? Na batalha dos meninos do betume são esses valores que importam; o mais importante é ganhar com dignidade, com verdade e lealdade. O reconhecimento também é uma característica da "guerra" pelo pedaço de terra. Que vença o melhor e que reconheçamos que eles mereceram. Todos os personagens, até mesmo os que falham, são apresentados com suas qualidades. Aqui não há vilões, mas sim atos falhos. Nos deparamos com o perdão e a justiça, com grandes heróis da infância, dando um grande destaque para Ernest Nemecsek, um garoto que nem sempre foi levado a sério pela sua perceptível fragilidade, mas que carrega dentro de si uma força admirável e consegue mostrar isso a todo o instante com sua ousadia e valentia. 
"Nemecsek fitou-o com os grandes olhos azuis e disse:- Gostei. Preferi tomar um banho e ficar à beira do lago rindo de um camarada. Prefiro ficar na água até o Ano-Bom a conspirar com os inimigos de meus amigos. (...) Podem convidar-me a ficar com vocês, adular-me, cumular-me de presentes: nada tenho que ver com vocês. Se me botarem na água mais uma vez, ou cem vezes, ou mil vezes, voltarei sempre: amanhã, depois de amanhã (...) Não tenho medo de nenhum de vocês.  E, se vierem à Rua Paulo tomar-nos o nosso terreno, lá estaremos. Lá, verão que, quando nós também somos dez, sabemos falar em outro tom. Comigo a briga não foi difícil. Vence quem é mais forte. Os Pásztor roubaram as minhas bolas de gude no parque do Museu, porque eram os mais fortes! Dez contra um, é fácil! Mas a mim pouco importa. Podem-me dar uma surra, se quiserem. Bastava eu não querer para não entrar na água, mas recusei o seu convite. Podem afogar-me ou matar-me a pauladas: eu nunca serei traidor como certos indivíduos...." (Pág.: 125-126)
Ainda sobre nosso herói, Nemecsék, há uma grande tensão na narrativa quando ele aparece. O personagem parece que foi criado para tocar o leitor, para provocar a empatia e consequentemente provocar nele uma grande comoção nos momentos finais da história, quando fica clara a figura do herói que luta com todas as armas e força pela pátria. Um herói que não é esteticamente forte e vence o tempo inteiro, mas que está sempre ali dando seu melhor mesmo quando todo o resto não confia nele.
"Lia-se em todos aqueles rostos que Nemecsek apanhara o resfriado por algum motivo nobre. Em termos exatos, ele se resfriara pela pária, tendo tomado três banhos, um por acaso, outro por obrigação, o terceiro por questão de honra." (Pág.: 162)
Considerado o livro Hungaro mais aclamado pelos leitores ao redor do mundo, Os meninos da Rua Paulo conta com três adaptações para o cinema, em diversas línguas, e é um livro capaz de atingir a todo o público. Agrada ao adulto, ao adolescente e a criança também. Com tradução de Paulo Rónai, ilustrações de Tibor Gergely, essa obra não pode ficar de fora da lista de livros lidos por você, que é um apaixonado por livros e histórias. É uma leitura necessária e que além de encantar, faz rir e vai emocioná-lo profundamente.

Bjux,

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