14 de novembro de 2014

'Outono na rua Brookling' - Parte II




Me chamo Júlia e estou doente neste momento. Carrego comigo uma doença que me deixa exausta emocionalmente. Meu namorado tinha um ano a mais em relação a minha idade, ele me acompanhava todos os dias em que eu precisava me consultar e saber se o meu organismo estava reagindo bem aos remédios, para combater os calafrios que fazem meu corpo estremecer. Dias e dias se passam e uma falta de ar infeliz ajuda que minha agonia seja ainda maior. Minha beleza enfraquece cada vez mais, no entanto, ao lado do Victor, eu tinha tudo, afinal quantas pessoas têm a sorte de serem escolhidas pelo amor, nas circunstâncias em que me encontro? O amor transforma, dizem! E eu estava sentindo na pele aquela transformação.

Victor era surpreendente, o tipo imperfeito de rapaz que beirava a perfeição por desenhar linhas tortas e, ainda assim, me levar a algum lugar a frente do que eu imaginava conseguir chegar. Estávamos organizando uma viagem a Paris e comemorando o fim da faculdade que ele acabara de concluir. Era só partir em busca de exercer o seu trabalho e colocar em prática tudo o que aprendeu, mas antes viveríamos nossa viagem romântica, é claro.

Cheguei ao meu destino. A Rua Brooklyn, normalmente chamada de rua ‘passaporte para os sonhos’ - ou ‘rua do paraíso’ - é uma rua de estrutura plana, com uma passarela imensa de asfalto, agrupando casas em suas laterais, parecendo um corredor, com árvores lado a lado e suas flores coloridas transformando aquilo num paraíso. Isso quando é primavera. Hoje o chão está coberto por folhas secas e é possível ver o céu com facilidade, já que os galhos estão sem folhas. Há poucos dias - antes da última sexta-feira – Victor e eu nos encontramos bem ali, num banquinho de madeira pintado com tinta marrom, próximo a uma cerca que protege o jardim com roseiras amarelas. Costumávamos nos encontrar e contemplar a beleza do lugar; falávamos de poesia, fazíamos declarações de amor e brincávamos de bem-me-quer, mal-me-quer. Agora eu me pergunto como aquele paraíso pôde ter sido devastado de maneira tão competente?!

Naquela tarde de sexta-feira eu havia ganhado um vestido de renda da minha mãe e decidi vesti-lo para mais um encontro com o Vic. O vestido de cor clara, tem o jeito que gosto e caiu muito bem no meu corpo. Recebi um elogio da minha coruja (costumo chama- lá assim) e me despedi dela quando fiquei pronta. Passei pela porta da sala cantarolando a canção dos amantes e fui ao encontro do Victor, na ‘rua do paraíso’. Estava ventando forte e sentir a brisa tocar o meu rosto foi libertador. Meus cabelos soltos voavam cheios de liberdade enquanto passos rápidos e ansiosos me acompanhavam durante a caminhada. O coração me tomava o fôlego e parecia que ia explodir de tanta ansiedade.

Mais um final de tarde e mais um final de semana; mais um encontro. E a cada encontro era como se fosse o primeiro. Me enxergava mais bonita naquele dia e, com certeza, o Victor se sentiria feliz em me ver acordar tão esperançosa e cheia de vontade. Que sensação maravilhosa eu tive!  Andei de olhos fechados sentindo meus cabelos ao vento, escutei o mundo me aplaudir e, logo em seguida, silenciar.

Por um momento achei que fosse apenas um atraso, mas as horas foram passando e dos segundos nasciam os minutos, até que durou uma hora e nem sequer uma ligação do Victor recebi. Enquanto pensava no que eu deveria fazer, senti uma mão me tocar o ombro e suspirei de alívio. Enfim, ele havia chegado.



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