Oi, Oi!
Como vai você? ❤
Vamos entrar num mundo não tão encantado assim, mas que tem uma beleza extraordinária, a realeza, uma princesa prometida à morte e uma mulher criada que presenciou toda a paz e a guerra que aconteceu dentro do castelo?
Isso te faz lembrar 'A Bela Adormecida', não é mesmo? Você acredita em contos de fadas? Acha mesmo que os contos tem começo tranquilo, uma reviravolta tensa no meio e um final promissor? Talvez seja assim, mas também pode ser que as histórias que escutamos sejam sempre maquiadas demais para que possamos nos confortar e acreditar num futuro melhor.
"Enquanto bela dormia" é um livro que leva três histórias ao leitor: a de Elise, a do casal infértil e em seguida a história de Rosa. É uma uma releitura competente, envolvente, empolgante, e angustiante da Bela Adormecida, conto que fez e faz parte da vida da maioria das crianças no mundo todo, mas que esconde uma história trágica e mais sombria do que a oralidade conta. A história se passa na era medieval e apresenta os dramas e as mazelas da vida no castelo da corte.
Na narrativa de Blackwell vamos conhecer Elise, uma senhora de idade que escuta a neta contando a história da Bela Adormecida nas suas brincadeiras e isso desperta nela uma sensação de nostalgia - misto de sentimentos bons, mas lembranças não tão boas do que realmente aconteceu com a princesa. Um dia Elise entende que a neta merece escutar a verdadeira história porque isso também envolve o seu passado. Nesse momento, o leitor sai de seu momento atual para embarcar numa história de amor, mas também de luta pelo poder e todas as consequências que uma guerra pode trazer para vida das pessoas. A senhora, que no passado foi uma criada fiel à Rainha Lenore, mãe de Bela, presenciou todas as mazelas sociais daquela época, dentro do castelo onde conseguiu emprego, após a morte da mãe. Mas a garota que conseguiu destaque e lugares privilegiados no castelo, também passou por momentos difíceis e delicados. Coisas que por um bom tempo a fizeram refletir sobre tudo o que conquistou e a levaram a questionar suas decisões e escolhas.
Quando chegou ao castelo Elise ganhou a confiança da Rainha Lenone, uma mulher triste e frustrada com a ideia de não poder dar um herdeiro ao Rei Ranoulf, pois não era fértil. Quando Millicent, a tia arrogante do Rei, apela para uma ceita, Lenore consegue engravidar, mas tem de se manter fiel à ela, que é vista como bruxa pelos criados do castelo. Quando o dia de Lenore dar à luz chega, ela tem uma grande surpresa: gerou uma menina. Mas uma mulher não pode ser sucessora de um rei e a partir daí o castelo encara um início de uma guerra tudo porque o soberano decide quebrar as regras e dar á bela Rosa seu lugar no trono. O rei cansado dos incômodos da tia decide afastá-la do castelo e por conta disso a velha joga um feitiço contra Rosa, tirando assim a paz de todos. A maldição do ódio de Millicent faz com que Rosa cresça presa dentro do castelo, aos cuidados dos pais, e de Flora, a tia bondosa do rei, "a fada do conto original".
Mas quando todas as tentativas de proteger Rosa falham, é Elise, a dama de companhia e confidente da princesa, sua única chance de se manter viva. E é pelos olhos dessa narradora improvável que conhecemos todos os personagens, nos surpreendemos com o destino de cada um e descobrimos que, quando se guia pelo amor - a magia mais poderosa do mundo -, qualquer pessoa é capaz de criar o próprio final feliz.
Ler Enquanto Bela Dormia foi uma experiência maravilhosa e gratificante. Eu, uma apaixonado por contos de fadas, me vi inteiro dentro do castelo, como um criado da corte, assistindo a tudo ao lado de Elise. Foi uma sacada inteligente e convincente da autora. Inteligente porque trouxe para a narrativa algo que nenhum outro autor fez, que foi escrever uma releitura do conto sob os olhos de um personagem de fora; e convincente porque a narradora em primeira pessoa descreve tão bem o ambiente que é impossível você não se sentir envolvido com a história, não se sentir parte dos moradores do castelo.
A linguagem do livro é extremamente coerente com a época, mesmo assim não espere uma leitura difícil, mas sim delicada, por vezes poética e completamente elegante. Blackwell nos conta uma história com total maestria, e embora você conheça de cor os rumos que o conto vai tomar, através daquilo que o povo conta, terá a sensação de estar vivendo algo novo, com resultados inesperados. E o que dizer do final? É simplesmente surpreendente.
Por ser uma história que retrata a sociedade de outra época e seus costumes é pertinente mostrar a imagem da mulher daquele cenário medieval. A autora colocou isso muito bem e marcou a mulher com estereótipos que persiste na sociedade até hoje (mesmo com a luta contra a ideia de que a mulher é sexo frágil): a mulher que é submissa, que casa para servir ao marido, que não tem autonomia e voz. A princesa também tem sua beleza estereotipada, mas possui garra e ousadia, ao contrário das Belas frágeis e extremamente românticas das demais histórias.
Sir Walthur respirou fundo ante a falta de respeito do filho. Permaneci sentada em silêncio, como era meu costume quando os dois discutiam assunto de Estado. A opinião de uma mulher não tinha a menor importância para nenhum dos dois.
Enquanto Bela Dormia é uma verdadeira homenagem ao conto clássico da Bela Adormecida. Competente na narrativa, fiel ao que propõe a história, cheio de elementos contemporâneos e construído com uma narrativa e linguagem fiéis à época. Um texto impecável, com um cenário encantador e informações que não deixam a desejar, capaz de transportar você para dentro do castelo e te surpreender mesmo que você, de alguma forma, já conheça os "caminhos".
E será mesmo que a Bela dorme para sempre depois de furar um dedo numa rosa?
XOXO,
com carinho,
Diih ❤