14 de novembro de 2018

LEVE-ME COM VOCÊ, DE CATHERINE RYAN HYDE


Olá!
♥️

Se pudesse cantar a frase de uma canção para o livro sobre o qual escrevo hoje, eu cantaria

"Oh! Seu moço do disco voador
Me leve com você
Pra onde você for
Oh! Seu moço
Não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por aí..."


Agora que já lhe dei uma canção para ouvir, lhe darei motivos de sobra para dar atenção a esse livro que tem uma beleza que vai além da arte de capa e das cores escolhidas. A beleza de "Leve-me com você" está nos personagens dessa história, nos lugares por onde vão e no tom ingênuo que também precisamos para manter o equilíbrio. "Leve-me com você" é um livro de Catherine Ryan Hyde, provavelmente o primeiro da autora publicado no Brasil. A narrativa conta a história de August, um rapaz vivendo o luto pela morte do filho e que encontra uma família que mudará sua vida e o ritmo de sua viagem.

August precisava consertar seu trailer para seguir viagem e felizmente conseguiu encontrar uma oficina na estrada. O destino da viagem é Yellowstone e o grande motivo dessa viagem é viver o luto e jogar as cinzas do filho que morreu há pouco tempo nos lugares por onde o adolescente desejava passar. Mas além de um mecânico competente o rapaz conhece seus filhos, Seth e Henry, duas crianças que farão August testar seus limites e reconhecer suas fraquezas ao mesmo tempo em que aprenderão com ele que não se deve limitar-se e pedir desculpas por ser quem realmente são. August mostrará e conhecerá também um mundo novo através de uma viagem cheia de beleza e desafios.

Leve-me com você é como a cor colorindo uma parede cinza e sem vida. Sensível e emocionante, a narrativa de Hyde nos coloca num lugar confortável e nos desperta sentimentos diversos quando nos apresenta a personalidades tão complexas e tão carismáticas, e nos convida a fazer uma viagem por lugares belos junto a elas. A história é leve, os diálogos são envolventes, os personagens são intrigantes e cada um ao seu modo desperta no leitor a vontade de conhece-los um pouco mais. E à medida em que o enredo se desenrola, vamos descortinando cada um deles e nos tornando mais próximos. Seja pela vontade de abraçar e não deixá-los sozinhos, seja pela vontade de ajudá-los a passar por um momento tão difícil e certamente tão real no nosso mundo. E isso não se aplica a apenas um personagens, mas a todos. Cada um se apresenta com suas limitações e barreiras a serem vencidas.
"Mas cada um de nós tem alguma coisa que causa tristeza, (...). E ninguém p ode nos salvar de todas elas." Pág.: 226
O livro traz à tona questões de relacionamentos familiares e problemas com alcoolismo, um assunto pouco abordado nos livros que já li e que me surpreendeu positivamente nessa história quando eu esperava um motivo comum e clichê para o que viria acontecer nos capítulos seguintes. Sem dúvidas os irmãos Seth e Henry são personagens marcantes e que abrilhantam ainda mais a história. Isso porque ao mesmo tempo em que se mostram como crianças espertas vivendo seus dias num lugar pacato e sem oportunidades, eles mostram uma sabedoria incrível. Seth é aquele que age; Henry o que observa. Mas ambos possuem seus medos e limitações. August também tem suas limitações pelo que aconteceu na sua família. O pai dos meninos, Wes, vive um dilema não tão fácil de ser resolvido - esse último é o tipo de personagem que mais te desafia a colocar-se no lugar do outro. E isso é incrível!

E por falar em colocar-se no lugar do outro o despertar da empatia é um dos pontos positivos da história, que conta com a vida dramática dos personagens, mas que mostra um tom ingênuo muito forte acredito e que acredito ser necessário. Há situações em que no mundo real seriam bem duvidosas, mas é bom pensar nesse momento no "com deveria/poderia ser". A autora foi muito feliz ao escrever uma trama com a problemática do alcoolismo, a negligência familiar, o luto, entre outros assuntos colocados levemente na história ainda assim, eficaz. Não choca, mas cutuca; te faz perguntas, mas não força a barra. A naturalidade e a verdade da história revela o segundo ponto positivo.

O relacionamento entre August e as crianças na história me reaproximou de Ada e Jamie, me fez lembrar o quanto os dois garotos levaram beleza para a vida de Suzan no livro "A Guerra que Salvou a minha Vida". Em ambos os livros fica claro o quanto a troca de afeto, de diálogo, de confiança e desabafo faz com que aos poucos eles se aproximem mais e se sintam mais confortáveis para vencer seus medos e frustrações.

Leve-me com você é uma história cativante que só reafirma o quanto o amor e a empatia são sentimentos que podem mudar tudo na nossa vida. E sobre como a presença e os ensinamentos muitas vezes despretensiosos de uma pessoa pode colorir nossa vida. E para além disso, uma história que deixa claro o quanto podemos ensinar ao outro e aprender com ele também.

Beijos,
com carinho ♥️

12 de novembro de 2018

IMAGINÁRIO COLETIVO: UMA HQ DE WESLEY RODRIGUES



Olá! 

Depois de um tempinho afastado do blog - por motivos de falta de tempo suficiente para escrever - estou de volta. Estou num período tenso, embora gratificante. Estou finalmente terminando o curso de letras, já fazendo estágio supervisionado e relatório de estágio, por isso tem sido difícil vir até aqui sempre. Leio os livros no meu ritmo, mas já tenho alguns livros lidos para resenhar. Aos poucos trarei essas resenhas. Não desistam de mim, obrigado pela paciência. 
♥️
Uma das palavras que mais traduzem a minha personalidade é LIBERDADE. E embora não possamos ser livres sempre ou totalmente, eu sempre faço questão de falar sobre ela, de mostrar o quanto batalhar para alcançá-la é essencial. Por isso, quando li Imaginário Coletivo fiquei empolgado com o conteúdo que não só traz a liberdade como tema, mas que usou da liberdade poética para criar traços tão lindos e que ilustra muito bem o tom da narrativa de Wesley Rodrigues.


Primeiramente devo dizer que após a leitura dessa HQ você irá sentir ainda mais a vontade de voar. Sim! Seguir seu caminho, ser quem realmente é, alcançar voos mais altos. É uma das mais lindas histórias sobre ser livre que já li, mas também uma das mais complicadas de ser descrita. Porque se você não se libertar das amarras e do comum, se você não tirar o pé do chão, você simplesmente terá aqui alguns desenhos no papel acompanhados de palavras. E só. Mas Imaginário coletivo vai muito além disso.

A primeira HQ nacional publicada pela Editora Darkside, do animador Wesley Rodrigues, além de traços e pinturas que remetem ao absurdo e que tem características psicodélicas (exceto pela ausência de cor) nos envolve na grande explosão de um universo desconhecido - ou não -, com referências da bíblia no que se refere à criação. Fica claro no início da leitura que a história se trata de uma fábula  e temos aqui nesse universo almas esperando para conhecerem suas formas de vida na terra. Mas no meio de tanta confusão, aglomerados de partículas prontas para "Virem a ser" e ansiosas para pegarem suas senhas para descer para esse novo universo, nos deparamos com uma partícula que embora deseje revelar-se como um pássaro pegou a senha para ser vaca. Mas ela não quer ser vaca e tenta trocar de senha. No entanto, a recusam e por meio de muita força de vontade e ousadia ela consegue passar pela porta dos pássaros e chega ao mundo dentro de um ovo. É uma vaca com alma de pássaro. E quem a recebeu foi a fazendeira Jerusca e seu marido, o fazendeiro Agripino.

♥️
"Mas a vaca jamais esqueceu que queria ser um pássaro. 
Jamais esqueceu que queria voar.
Se imaginava em cima das nuvens."

O absurdo em que se faz a história nos traz muita graça com a trajetória da vaquinha-pássaro que a todo o tempo se esforça para voar. Você vai acompanhar sua evolução e seu treinamento diário com os pássaros até finalmente alcançar o céu e aprimorar seu voo sem desistir um segundo sequer de seus objetivos. Ela voará nem que seja preciso engolir todo o universo para isso.


Como já havia dito a liberdade é tema dessa HQ  e a beleza está em cada página e forma de pintura do trabalho do animador. Os traços remetem perfeitamente ao caos, cheia de traços imperfeitos, pinturas exageradas e caricatas. Eles se misturam com o ritmo da história e ambos dialogam perfeitamente. Nem sempre você verá palavras, mas sempre haverá imagens traduzindo a agonia, a pressa, a surpresa... dos personagens. É um verdadeiro desafio para sua imaginação. É para que você saia do mundo comum e perceba além do que está a seu redor. 

Imaginário coletivo é uma história que causa estranhamento, mas que consegue mostrar sua beleza dentro disso. Causa confusão, tédio, receio, sensações reais de desconforto quando nos deparamos com algo novo. Uma HQ com uma história atual, que traz à tona a importância de lutar pela liberdade de expressão e de ser quem realmente você é. Está linda e merece sua atenção.

Beijos,
com carinho ♥️
© Vida e Letras | Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento por: Colorindo Design
Tecnologia do Blogger