10 de janeiro de 2018

'Só Escute', de Sarah Dessen



Olá você,
que assim como eu é fã declarado da Sarah Dessen e reconhece as situações e personagens cruelmente reais dentro de suas narrativas. Um dos motivos pelos quais ela é uma das autoras de maior sucesso dentro da literatura jovem adulta contemporânea está para sua escrita de fácil compreensão e atreladas a isso estão as tramas que retratam o grito abafado presente nos lares das famílias de qualquer lugar.

Só escute é o sexto livro da autora publicado no Brasil, sendo o terceiro com os direitos cedidos à Editora Seguinte - Os Bons Segredos e Uma Canção de Ninar também estão presentes no catálogo - e também traz como características as problemáticas existentes nas grandes famílias, com foco no período da adolescência dos personagens.

★★★

Em Só Escute você vai conhecer Annabel, a terceira de três irmãs modelos, que vive se escondendo e silenciando suas vontades e opiniões. No verão passado ela estrelou um comercial em que vivia a típica garota que tinha tudo na vida, mas agora que o ano letivo começou e Annabel teve que voltar para a escola, a garota se depara com uma grande solidão. Isso por conta de um acontecimento na festa de encerramento do ano letivo, um mau entendido que custou sua imagem perante seus amigos e colegas de escola, além de um grande pesadelo. No entanto, em meio ao caos em que a vida da adolescente se transformou surge Owen, o típico garoto estranho da escola, que vive escutando música, traz cor para a sua vida e a faz ver coisas que até então não via. Com a amizade e a convivência com o garoto, Annabel irá descobrir muito sobre ela mesma e poderá finalmente dizer tudo o que precisa para ser quem realmente é. 

Um dia cheio, uma nova amizade, um apoio, uma canção que poder mudar tudo. 

Drama familiar, drama adolescente, amizade, violência sexual e distúrbio alimentar são temas presentes na trama em primeira pessoa. Com uma narrativa não linear (apresenta flashes do passado a todo o momento), Sarah Dessen escreveu uma história que é como um retrato da realidade, um "chamar atenção" para o que acontece em silêncio dentro de casa e dentro de um adolescente, que muitas vezes se cala sofrendo com seus medos e traumas; vazios e solidão.

Annabel é uma adolescente contida, que não se sente feliz com o trabalho de modelo. A garota faz de tudo para não desapontar a mãe, por isso aceita fazer fotos e desfile. Mas no fundo não quer nada disso, porém não sabe como falar: entre não magoar a mãe, alimentar seus desejos e jogar tudo para o alto ela sempre fica com a primeira opção. Até que conhece o destemido Owen, que com toda sua graça, suas surpresas e sua sinceridade acaba inspirando a menina a soltar sua voz e dizer o que pensa, o que quer. Aos poucos Anabel vai aprendendo a lidar com suas reais vontades, com o problema alimentar da irmã do meio, com a "ausência" da mãe (que embora esteja presente o tempo todo não busca saber o que se passa na cabeça da filha mais nova), a falta da melhor amiga, o olhar atravessado dos colegas de escola e um segredo doloroso que voltou a perturbá-la com força.

A trama de Só Escute não deixa a desejar em nada em relação as anteriores, a não ser pelo casal da história e a protagonista em si. A justificativa para a personalidade da garota é aceita, mas um tanto exagerada e isso faz dela uma garota nada "atraente", sem carisma, sem graça alguma e muitas vezes irritante. Owen também, apesar de ser independente e levantar o humor da dela, também não é um personagem forte e marcante. Na verdade, todos os personagens dessa história não são fortes o suficiente para serem inesquecíveis. E por falar em personagens marcantes, o leitor vai se deparar com a presenta de um casal já conhecido dos leitores de Sarah, que com uma breve aparição é capaz de empolga-los facilmente.
"Para encarar a verdade, você precisa estar disposto a ouvi-la."
Sobre a narrativa de Sarah Dessen é algo indiscutível e a tradução de Alessandra Esteche não deixa a desejar, não tira o brilho do que foi escrito. A presença de situações vividas pelos adolescentes, como por exemplo a pressão sofrida pelos colegas, a vontade desenfreada que muitos têm de ser popular e as consequências (perdas) que isso traz está presente, sendo muito bem representado. Mas é a situação de abuso sexual que choca, não por ser uma surpresa na narrativa (porque não é e está bem na cara), mas pelo trauma que isso deixa numa pessoa e pela mensagem que merece ser escutada.
"Eu estava começando a perceber que o desconhecido nem sempre era o que mais deveríamos temer. As pessoas que nos conhecem melhor podem ser mais perigosas, porque suas palavras e seus pensamentos podem não apenas ser assustadores, mas verdadeiros." (Pág.: 66)
Embora os personagens não se apresentem tão agradáveis e marcantes, a trama de Só escute vale a muito a pena. Retirando os momentos de exagero na personalidade da protagonista e as cenas um tanto caricatas, em alguns momentos, o livro tem uma mensagem que vale a pena e uma narrativa que não vai deixar você com a sensação de tempo perdido, muito pelo contrário.

Um Bju meu
e até mais







8 de janeiro de 2018

E. Lockhart e sua 'Fraude Legitima'.



Diziam para mim que a autora e. Lockart é espetacular na construção de suas narrativas, de seus enredos e finais inesperados. Quando me falavam sobre ela, me davam como referência o livro "Mentirosos" e toda a empolgação possível que tivesse para falar sobre ele. Na verdade, ainda hoje escuto coisas ótimas sobre a autora e seus livros. E eu finalmente pude entender e concordar com cada elogio empolgado que ouvi.

Não li "Mentirosos" ainda, mas perdi o fôlego com "Fraude Legítima", livro que também foi publicado pela Editora Seguinte.

★★★

No enredo de uma narrativa não linear, Lockhart nos envolve numa trama intrigante, cheia de por quês e grandes surpresas. Nos apresenta Jule West Williams, uma mulher misteriosa, sobrevivente obstinada, capaz de se adaptar a qualquer lugar e situação; e nos apresenta também a Imogen Sokoloff, "herdeira em fuga, em busca de liberdade.

Enquanto uma se recusa a ser o que esperam dela, a outra se recusa a ser quem foi no passado.

Certo dia, Imogem pula de uma ponte, em Londres, e deixa a grande amiga Jule West sem chão. Ambas tinha uma relação justa de respeito, amor e união, até que a grande tragédia muda a vida de West, que nunca foi uma garota tão comum. Misteriosa e cheia de segredos, West é capaz de fazer coisas que talvez ela mesma duvide. Uma hora aqui, outra ali; uma hora com maquiagem, outra sem. Quem é Jule West?

Uma amizade intensa e uma fraude capaz de transformar - e destruir - vidas. Será que uma pessoa é tão ruim quanto suas piores ações?
"- [...]Nossa personalidade não é somente uma. É uma adaptação.
- Está dizendo que eu parei de representar a mim mesma?
- Ou agora está representando de outra maneira. Existem diferentes versões do eu."
Esse livro se revelou uma ótima surpresa para mim, ano passado. Eu realmente esperava que fosse tudo o que diziam e foi. Ele me surpreendeu de forma positiva e marcou meu primeiro contato com a narrativa da autora.  E que narrativa! 

Fraude Legítima explora um tipo de narrativa pouco comum - de trás para frente - e isso facilita no surgimento de surpresas a todo momento. É um texto fluído e arriscaria dizer incomum também. Tem o ritmo de um filme de ação e consegue ser surpreendente - por sinal, vai virar filme logo mais, aguardem.

Uma das coisas que mais me chamaram atenção é que não há demora em explicações e incentiva o leitor na busca de respostas para tantas lacunas que são deixadas o tempo inteiro. Além disso, desafia a ideia de fragilidade feminina a todo instante, através dos diálogos entre as amigas, as lembranças da personagem principais e seus questionamentos.
"Sua vida era cinematográfica. Ela brilhava sob a luz dos postes (...) Sim, era verdade  que ela era violenta. Até mesmo brutal. Mas esse era seu trabalho (...).
O grande trunfo de Fraude Legítima é a complexidade da personagem principal e não ser narrado em primeira pessoa com certeza foi um ponto positivo, já que conhecer o pensamento da personagem poderia prejudicar a surpresa do mistério. Você saberá que a protagonista não é digna de confiança, mas ainda assim torce para que ela consiga causar o estrago que deseja. West é uma personagem extremamente egoísta, inteligente e calculista. E bastou destacar tais características para lembrar do - grande - talentoso Ripley e sua trama bem feita e suas várias personalidades, que causaram a surpresa nos telespectadores que assistiram ao filme (adaptado da obra de mesmo nome, escrita por Patricia Highsmith) nos anos 90.

O perigo em "Fraude Legítima" está na confusão que a história contada de forma não linear é capaz de fazer. Você não começa convencionalmente do início, você simplesmente parte de um ponto da história e segue caminho juntando os pedaços, tentando desvendar os mistérios. São muitas informações, muitas hipóteses que pode bagunçar a mente do leitor. Mas vale a pena ler até o final, tudo se encaixa. É uma leitura rápida, dinâmica e divertida, mesmo não sendo engraçada de fato.

Comparações, lembranças e confusões à parte, FRAUDE LEGÍTIMA te prende do início ao fim e desconstrói a imagem construída da fragilidade da mulher sempre à sombra, sendo salva pelo grande herói. Um livro cuja adrenalina é concentrada nas ações de uma mulher à frente e não à margem.

PS: Me aprofundar a falar da história seria correr um sério risco de spoiler muito grande. Preferi então destacar os pontos importantes e que acredito que empolga e surpreende o leitor. Há muitas surpresas na trama, vale a pena vivê-las.

Um Bju meu,
com carinho

 



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