Há muito tempo não leio um drama tão envolvente e cheio de tensão como esse. O Perfume da folha de chá foi uma escolha certa de leitura e nem mesmo os momentos mais cansativos da trama fizeram que com que não valesse a pena.
|Esse é um romance histórico, best-seller #1 na Inglaterra, e toda a trama é ambientada no Ceilão, em 1925. É o segundo romance da autora Dinah Jefferies e o primeiro lançado no Brasil, sendo publicado pela Editora Paralela este ano.|
Gwendolyn Hooper acaba de sair da Escócia, com apenas 19 anos, e é passageira de um navio que a levará para o Ceilão (atual Siri Lanka) onde ficará com seu marido, o charmoso e gentil Laurence. Ele e Gwen, como é carinhosamente chamada, são recém casados e formam o tipo de casal que representa a perfeição na sociedade aristocrática: a bela dama britânica e o proprietário de uma das fazendas de chá mais prosperas do Império. Mas nem tudo são flores quando Gwendolyn chega à mansão, divina propriedade Hooper. Com o tempo a mulher percebe que existe rancor por parte dos empregados, todos eles são calados e vivem numa vizinhança traiçoeira. E apesar de muito carinhoso, Laurence muitas vezes parece estar atormentado com algum segredo que envolve seu passado, mas se recusa a conversar sobre isso. É tudo um grande mistério, porém a grande felicidade chega com a notícia de que Gwen está esperando um bebê. No entanto, essa mesma felicidade transforma-se num grande pesadelo quando a mulher dá à luz. Agora é ela que irá guardar um segredo que pode ser capaz de mudar tudo na relação com Laurence e fazer sua família desmoronar. Mas do que será que Gwen é capaz para salvar seu casamento? E o que será que Laurence esconde?
O Perfume da folha de chá apresenta ao leitor uma história dramática, embora em primeira mão instigue o leitor com a promessa de uma narrativa misteriosa. O contexto histórico é um ponto alto na trama desenvolvida com um narrador na terceira pessoa, e prende o leitor desde as primeiras páginas por conta da narrativa elegante e toda sua tensão, característica comum aos dramas.
O romance de Dinah Jefferies apresenta um panorama histórico rico em detalhes sobre o Ceilão e atrela esses acontecimentos de maneira brilhante à história, tornado-a mais próxima da realidade o possível. O narrador nos leva a conhecer as belezas do local, nos fornece informações sobre a sociedade da época, principalmente no que tange às condições precárias dos trabalhadores e a questão racial e cultural - que implica nas exclusões sociais que como podemos observar existe até hoje. Também é importante destacar a personalidade da protagonista, Gwendolyn, e perceber o quanto é uma mulher forte, que foge do rótulo de sexo frágil, embora esteja inserida na trama como a mulher que está ali para cuidar da casa e não do que está além dela. Porém, você irá se surpreender quando Gwen for mais além do que a gente espera.
"Só com muita sorte o Sindicato Trabalhista do Ceilão não vai ficar sabendo desse caso. O senhor é um homem cruel, que só consegue enxergar o pior nas pessoas. Eu acredito que devo tratar de forma justa e gentil, qualquer que seja a cor da pele." (Pág.: 287)
E se existe a problemática sobre a questão relacionada ao papel da mulher na sociedade, consequentemente, e de maneira sutil, o leitor vai perceber o machismo gritante que prevalece em alguns personagens na trama. E também deixa claro que há pessoas que não se importam com a qualidade de vida daqueles que estão "abaixo" deles no âmbito social (fato que também existe até hoje).
"Apesar do medo, Gwen sentia pena daqueles homens, e temeu que McGregor pudesse persegui-los. Mas, se por um lado a pobreza dos trabalhadores a comovia até as lágrimas, para Verity eles não pareciam ser um assunto digno de muita atenção." (Pág.: 279)
O clichê não escapa aos olhos de quem gosta e é fã de romances dramáticos e históricos e você não estará escape dos acontecimentos previsíveis, dos escândalos, chantagens e anseios que afetam a vida de boa parte dos protagonistas em narrativas como essa. Porém, temos dentro do clichê personagens muito bem desenvolvidos e arriscaria dizer que são personagens marcantes - seja por suas atitudes ou simplesmente pela força das de suas características internas e suas ações.
Talvez você comece a leitura com um desejo de decifrar qual será o segredo sobre o passado de Laurence, o esposo da protagonista, e aos poucos você terá uma pista, até que ele seja finalmente revelado no final da história. Mas você irá se deparar também com o segredo que envolve o presente de Gwen e talvez esse seja um momento de decepção para quem espera demais do mistério sobre o proprietário das fazendas de chá. Neste momento o foco é voltado para a mulher e a luta interna pela qual ela passa a travar, o que envolve seus medos, seus traumas, suas tristezas e revoltas. Por um momento o mistério fica de lado e o drama se faz presente e exagerado demais.
De modo geral, o perfume da folha de chá é um romance que apesar de não ofertar momentos de fortes emoções ao leitor, problematiza questões importantes e discutidas na nossa atualidade, através do contexto histórico dos anos XX. Com uma narrativa impecável e cheia de descrições precisas sobre o ambiente e os personagens, a história conquista o leitor facilmente e promete não decepcionar. Eu indico a leitura principalmente aos amantes de romances que envolve muito clichê e drama familiar.