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Borboletas voam pelo campo verde e a
imagem colorida completa o quadro que Alice pintou em sua vida. Exposto na
parede do quarto é possível ver o vestido azul e branco que a garota veste e seus
pés descalços pisando o chão puro.
A menina que corre de um lado a
outro pode ser confundida com a garotinha que caiu na toca do coelho e viveu seu
mundo por trás do espelho. O campo onde está correndo é seu, o chão onde pisa
tem pedras, machuca e o seu vestido que não é tão limpo, está amassado. O céu
já esteve nublado, pingos de chuva caíram pesados lá do alto, mas o azul que dá
cor à imensidão voltou a aparecer.
Os pássaros naquele lugar não falam,
mas cantam a manhã que acabou de chegar; As flores não constroem corais em seus
jardins, mas exalam um aroma capaz de adocicar corações. Lágrimas não geram mar
e secam rápido quando um caminho –um único caminho – complicado surge sobre os
seus olhos. E que haja erros! – pensa. Há apenas um caminho, mas cheio de
escolhas, melhor que vários caminhos simples, comuns. Toda e qualquer escolha
que seja feita, Alice proclama a todos os erros a graça de transformá-los em acertos.
E ela continua a corrida pelo grande campo.
Sem coelho e pressa, sem corrida
desesperada ou chapeleiro maluco e seu inexistente chá. Sua calma independe
disso e sua doçura transcende a satisfação de ser o que ela é; complexa em seus
questionamentos, decidida em suas escolhas – seja lá onde elas forem parar. Não
há quem ordene lhe cortar a cabeça e o seu caminho para casa não lhe mostra
labirintos.
Enquanto se suja com tintas
coloridas, prestes a pintar a porta de casa, a pequena de vestido comum e vida simples
não precisou habitar um maravilhoso mundo. Ela simplesmente se fez maravilha
dentro deste vasto espaço, escolheu cores vivas, pintou o seu melhor sorriso e
escolheu, para o seu último traço na pintura, a expressão de alguém que
escolheu ser feliz.
© Diego França
2012 *