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Me
chamo Júlia e estou doente neste momento. Carrego comigo uma doença que me
deixa exausta emocionalmente. Meu namorado tinha um ano a mais em relação a
minha idade, ele me acompanhava todos os dias em que eu precisava me consultar
e saber se o meu organismo estava reagindo bem aos remédios, para combater os
calafrios que fazem meu corpo estremecer. Dias e dias se passam e uma falta de
ar infeliz ajuda que minha agonia seja ainda maior. Minha beleza enfraquece
cada vez mais, no entanto, ao lado do Victor, eu tinha tudo, afinal quantas
pessoas têm a sorte de serem escolhidas pelo amor, nas circunstâncias em que me
encontro? O amor transforma, dizem! E eu estava sentindo na pele aquela
transformação.
Victor
era surpreendente, o tipo imperfeito de rapaz que beirava a perfeição por
desenhar linhas tortas e, ainda assim, me levar a algum lugar a frente do que
eu imaginava conseguir chegar. Estávamos organizando uma viagem a Paris e
comemorando o fim da faculdade que ele acabara de concluir. Era só partir em
busca de exercer o seu trabalho e colocar em prática tudo o que aprendeu, mas antes
viveríamos nossa viagem romântica, é claro.

Naquela
tarde de sexta-feira eu havia ganhado um vestido de renda da minha mãe e decidi
vesti-lo para mais um encontro com o Vic. O vestido de cor clara, tem o jeito
que gosto e caiu muito bem no meu corpo. Recebi um elogio da minha coruja
(costumo chama- lá assim) e me despedi dela quando fiquei pronta. Passei pela
porta da sala cantarolando a canção dos amantes e fui ao encontro do Victor, na
‘rua do paraíso’. Estava ventando forte e sentir a brisa tocar o meu rosto foi
libertador. Meus cabelos soltos voavam cheios de liberdade enquanto passos
rápidos e ansiosos me acompanhavam durante a caminhada. O coração me tomava o
fôlego e parecia que ia explodir de tanta ansiedade.
Mais
um final de tarde e mais um final de semana; mais um encontro. E a cada
encontro era como se fosse o primeiro. Me enxergava mais bonita naquele dia e,
com certeza, o Victor se sentiria feliz em me ver acordar tão esperançosa e
cheia de vontade. Que sensação maravilhosa eu tive! Andei de olhos fechados sentindo meus cabelos
ao vento, escutei o mundo me aplaudir e, logo em seguida, silenciar.
Por um momento achei que fosse apenas um atraso, mas
as horas foram passando e dos segundos nasciam os minutos, até que durou uma
hora e nem sequer uma ligação do Victor recebi. Enquanto pensava no que eu
deveria fazer, senti uma mão me tocar o ombro e suspirei de alívio. Enfim, ele
havia chegado.
Primeiramente: WOW! Que bacana ficou esse segundo excerto, Daniel.
ResponderExcluirGosto muito do modo como você apresentou a personagem, dando detalhes sobre sua rotina e mostrando um pouco mais do mundo que a rodeia, mas sem perder a essência de seu mundo particular. Gosto do fato de a personagem ter um nome, mas não ter um rosto. De saber a tonalidade e a malha de seu vestido, mas não precisar definir o modelo. De saber de sua dor, e ter a paciência de um amigo e esperar que ela se abra quando sentir-se pronta. É como pegar um quebra-cabeças desconhecido de dentro de uma caixa qualquer e se empenhar a montá-lo. Não importa se a imagem será bela ou triste, afinal, a felicidade de ter se empenhado na descoberta é recompensandora - eis a beleza da liberdade de imaginação. Uma vez mais, parabéns.
E como há braços, abraços.
Caleb Henrique Viajante Literário