2 de abril de 2018

Coragem: um manifesto, de Rose McGowan




Olá,
Nada melhor que começar a semana com o manifesto, não é mesmo? E é assim que defino inicialmente o livro CORAGEM, escrito por Rose McGowan, que por muito tempo viveu sob os holofotes em Hollywood e por isso conhece muito bem as facetas e infortúnios pelas quais as atrizes passam quando as câmeras estão desligadas.

Rose McGowan cresceu numa seita como ela mesma define nas primeiras páginas do livro. A primeira delas aconteceu quando era muito nova e foi obrigada a orar e crer num Deus cruel que ela se recusava acreditar. Foi  obrigada a conviver com as instabilidades emocionais do pai, e quando finalmente conseguiu se livrar entrou de cabeça em outro pesadelo: um relacionamento abusivo. E você concorda que é mais triste quando você sai de um lugar perturbador, crente que encontrou o paraíso, e mais tarde esse lugar confortável se mostra mais uma espécie de pesadelo? Foi assim que aconteceu. Então McGowan decidiu fugir, passou perrengue nas ruas, foi vítima de abuso até ser descoberta por Hollywood. E ela não sabia, mas esse seria outra seita da qual, mais tarde, ela tentaria - e não seria fácil - se livrar. Então, esse período, enquanto gravava filmes de sucesso, dava entrevistas e mais entrevistas, Rose também era humilhada, foi abusada outra vez - fisicamente e mentalmente - e se afastou de quem realmente era com todo o ideal de beleza para atrair o público não por seus trabalhos, mas pelo seu corpo e sensualidade. O machismo é latente. Tudo isso bagunçou a mente de uma atriz dedicada, que mais tarde teve problemas de depressão. Mesmo assim ela não desistiu e o resultado disso está nesse texto dramático e cheio de fúria contido na sua autobiografia, intitulada CORAGEM.
"Me diziam que eu precisava ter cabelo comprido, caso contrário, os homens que contratavam em Hollywood não iam querer me comer, e se eles não quisessem me comer, não me contratariam. Ouvi isso da minha agente, uma mulher, o que é trágico em muitos níveis. Tão, tão, tão cruel e tão triste."[Pág.: 12]
Comecei a ler esse livro com um certo preconceito, não nego. Não costumo ler autobiografias porque não gosto, então estava relutante quando recebi esse livro. No entanto, como conheço a atriz desde 1996, através do primeiro filme da franquia PÂNICO, e por se tratar de um manifesto - posso bem dizer assim -, uma voz a falar sobre abuso, sobre "escravidão", sobre machismo, eu decidi me dar a chance de ler. E posso dizer que definitivamente não me arrependi. Rose McGowan teve um passado difícil e muito triste. Perdeu a infância, mas viveu com garra suas dificuldades. Foi abusada várias vezes, sofreu violência no lar, fora deles e atrás das câmeras na poderosa - e cruel! - Hollywood. Seu texto não é somente uma denúncia, mas também uma alerta; uma maneira de "falar" para você, que você não está sozinha (o) e que é mais forte do que imagina.


Fazer a leitura desse livro pode fazer com que você, que já passou por isso, não se sinta só e entenda a importância de não se calar ou de pedir ajuda. Não é uma caminhada fácil, podemos imaginar, mas é uma luta diária que precisa ser comentada e exposta. Os relatos de McGowan são intensos, por vezes apelativos e cheios de fúria. É um diálogo direto que ela faz com o leitor, como se estivéssemos numa roda entre amigos revelando nossos segredos e insatisfações. Alguns relatos são tão chocantes, que parecem irreais.

Com um discurso empoderado e firme, além de muito corajoso, Rose revisita seu passado e traz à tona momentos difíceis de serem lembrados. Ela divide com o leitor suas experiências mais traumáticas e denuncia o abuso sexual numa indústria extremamente machista, que dita o jeito certo de se vestir, e a mulher/ a pessoa que você deve ser. Mas não é só isso, não é somente dividir e contar seus dramas. O texto funciona como motivação, a autora está conversando com você, dizendo para você. Como ela mesma diz numa passagem do texto, "ser corajosa não quer dizer não ter medo, só significa fazer as coisas que dão medo mesmo assim."

E para além da denúncia, podemos facilmente perceber o resultado dos maus tratos na vida de uma pessoa que passa por tanto abuso de todos o lados. Portanto, esse é um livro para todos. Não importa o que você tenha passado, se já passou por algo parecido ou não, você sempre pode ajudar o outro. Você sempre pode entender o outro. Uma mulher não sobre abuso ou apanha por que quer; ela é pega primeiro pelo psicológico. E você consegue imaginar a bagunça que isso gera na mente de uma pessoa?
"A verdade é que eu não deveria ter me envergonhado, e, no caso de todas as vítimas em situações parecidas , elas não devem se envergonhar. Quem deveria se envergonhar é o doente que nos tocou de modo inadequado." [Pág.: 89]
Algumas pessoas provavelmente dirão que é mais um livro feminista, de uma mulher mal amada ou coisa parecida. Mas não é! O assunto é sério e precisa ser discutido mesmo e comentado sempre e em qualquer lugar. A gente não pode nunca se calar, estamos vivendo um momento de desconstruções daquilo que nos foi dado desde o início de nossas vidas. Tenha CORAGEM
"Minha vida, como você vai ler, me levou de um culto ao outro, o maior culto de todos; Hollywood. CORAGEM é a história de como lutei para sair desses cultos e retomei as rédeas da minha vida. Eu quero ajudar você a fazer o mesmo. "
-- Rose McGowan

11 comentários:

  1. Olá.

    Eu gosto muito de histórias assim, recentemente, eu li A pérola que rompeu a concha, que é um livro que aborda toda esse sofrimento e essa busca por uma fuga. De verdade, dói, dói muito perceber que tudo isso não mudou com o tempo e que ainda enfrentamos essas ciladas, que não estamos livres.

    Eu fiquei - já tava, na real - muito interessada nessa autobiografia, e eu sou igual a ti, tenho um leve preconceito, mas há coisas que não podemos escapar e ler sempre ajuda a refletir a respeito. Obrigada! :)

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  2. Oi Diego, tudo bem?

    Não conhecia o livro, mas vi desejando-o ardentemente. Costumo ler algumas autobiografias, mas essa me deixou mais curiosa que o normal, pois gosto quando a autora se impõe e coloca em sua narrativa seu grito de guerra, sua busca pela verdade.
    É difícil perceber como o preconceito racial ainda está latente na sociedade, como o machismo ainda existe, como as pessoas ainda vivem enclausuradas. Com certeza é uma obra que lerei no futuro, vai para a minha lista! Sua resenha está perfeita, como sempre!

    Beijos!

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  3. Olá!
    Não conhecia a atriz, mas seus comentários já me fazem respeita-la. Tratar assuntos tão pessoais e importantes em uma biografia já evidência a coragem que essa mulher tem. Se esse é seu grito, estamos aqui para ouvi-lo!
    Livro adicionado á TBR :D

    Abraço,
    Lupi Literatus

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  4. Olá!

    Assim como você não gosto de ler biografia, mas tai que eu quero ler esse livro! Quando estava lendo sua resenha pense: - quantas atrizes e atores não passaram pelas mesmas coisas? sabemos que a vida dessas estrelas não é tão fácil quanto pensamos.

    sonhoseaventurasdeamor.blogspot.com.br

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  5. Olá
    Por mais pertinente que seja o tema tratado, eu realmente não gosto de autobiografia,prefiro as biografias e de preferencia as não autorizadas, já que o interessante é conhecer as histórias que o biografado não quer contar. Eu também ando passando longe de histórias que eu vejo todo dia nos jornais, a realidade anda dolorosa demais para ler sobre mais dor, então prefiro pegar coisas mais leves em meus momentos de lazer.

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  6. Caramba, Diego! Que livro forte, eu vi você falando que essa mulher tinha passado por uns maus bocados, mas não imaginava que era sofrimento atrás de sofrimento na vida dela. Fiquei muito interessado em fazer a leitura depois dessa resenha. Eu vejo algumas pessoas falando que esses temas são pesados e que a realidade é dura demais, por isso não leriam algo assim. Entendo o lado delas, mas compreendo que são essas histórias que podem servir de inspiração de força, de perseverança e de CORAGEM, como o título diz. A vida realmente não é fácil e se encarrega de escolher pessoas específicas para dificultar ainda mais - nós precisamos aprender com os bons exemplos.

    Eu gosto de autobiografias, mas geralmente elas me desapontam porque minhas expectativas sempre são altas demais. Essa parece que não vai seguir o mesmo caminho, felizmente.

    Ótimo texto (e o blog tá belíssimo, já falei isso hoje?)!

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  7. Caramba, Diego, que tiro foi esse?! rs

    Achei super inteligente da sua parte ter considerado essa história um manifesto pois, ao ler sua resenha, foi assim que vi essa biografia. Confesso que, assim como você, também não sou muito fã de biografia, mas essa me interessou. Pude sentir as lágrimas da atriz enquanto narrava a própria história.

    Muito bom, parabéns!

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  8. Oi Di,
    Curioso é que eu participo de um Clube do Livro na minha cidade do qual faça parte ajudo a organizar. No ultimo encontro um dos participantes levou de presente ente livro para uma menina do nosso grupo. A capa despertou minha curiosidade na hora mas como o livro não era para mim :-( Me segurei. Agora lendo a sua resenha tenho vontade de ler e conhecer esta historia. #mexeucomumamexeucomtodas
    Beijos

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  9. Cara! O livro é top demais pow!
    Nunca tinha ouvido falar dele, mais estou encantada com a história dela.
    Já vou comprar essa semana!!!!!!

    Obrigada pela dica! :x

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  10. é nojento pensarmos oque acontece por trás das cameras de Hollywood... Gosto muito de ler biografia.

    xoxox

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