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O
ponteiro do relógio marca oito da manhã, mas antes do alarme tocar já estou acordada.
A madrugada tem sido o meu maior pesadelo e sem conseguir fechar os olhos tenho
visto o céu clarear todos os dias. Mas hoje não há luz do sol, apenas uma nuvem negra
escurecendo as ruas lá fora, avisando que irá chover. Hoje faz uma semana desde
a minha última visita a rua da quadra A. E faz uma semana que sinto meu coração
morrer.
Caminho
até a janela do quarto, a vida segue a sua rotina habitual. Crianças sendo
levadas para escola, o meu pai que acaba de sair para trabalhar e a minha mãe
colocando os refugos para fora de casa, antes do carro de lixo passar. Moro
numa rua cheia de árvores, mas, assim como eu, suas folhas não estão suspensas
em galhos, todas estão caídas no chão; secas, mortas. É outono. É sexta-feira.
É apenas um dia a mais em minha vida e, parada, olhando o mundo pela janela, me
pergunto em que mundo a minha vida se perdeu de mim. Sei que meus olhos estão
escurecidos, lágrimas caem sem parar. O espelho tem sido o meu maior inimigo. Por
conta da minha insônia as olheiras estão visíveis, refletidas na escuridão em
mim.
Não
consigo traduzir o que sinto neste momento e parece que a tristeza da alma
adquire o meu melhor para si. Caminho pelo quarto, arrumo a cama, limpo as
poeiras que entram a todo instante por cada espaço possível da casa. Em seguida
me olho no espelho, penteio os cabelos, visto uma roupa e saio porta a fora
ignorando as palavras de minha mãe que diz: “não demore a voltar.” Mas não
tenho noção de tempo, apenas me deixo guiar com passos lentos e o pensamento
distante.
Rua
Brookling, nº01, quadra A. Esse é o lugar que eu tenho evitado me aproximar
desde a última sexta-feira, quando, por maldade do destino, uma força mais forte
que o amor levou embora a minha paz. Sim, a minha paz. Porque
diante dessa guerra que tento vencer todos os dias, o Victor me trazia
tranquilidade. Ele me mostrava que vale a pena lutar, simplesmente porque é bom
viver. Mas conviver com essa nova dor instalada em meu peito é quase um
sacrifício.
Gostei muito dessa parte, primeira do seu conto. Enredo bem simples, mas com uma textura, um fio bem legal de seu autor. Que descrevendo-se, expõe com sutilidade e boa estrutura um lado emocional, que ora se apresenta em meio as rotinas vivida lançando pitadas melancólicas a sua obra. Os personagens são estruturados de modo meio clássico, mas que por uma visão social e moderna do escritor, traz a percepção de que estamos vivendo tudo aquilo. Ali, e agora. Os detalhes torna bem rico e dinâmico toda essa parte da narrativa, que ali por vezes mostra só o tempo: aquele que passa e se torna passado, fazendo de tudo um outro, um avesso ou reflexo de algo ou alguém em um espelho.
ResponderExcluirContudo, espero mais um capítulo dessa história a ser escrita.
Poxa vida, meu caro Diego, que beleza de introdução.
ResponderExcluirGosto do modo intimista da personagem que, por ora, encontra-se personificada na dor. E, quem de nós, afinal, não é assim? Há alguém imune a dor? Duvido muito, afinal, o que nos distingue é o modo com o qual lidamos com ela. Fiquei curioso, confesso. Como lidará a personagem com sua dor e quais segredos guarda a tal avenida?
Aguardo, pois, a próxima parte.
E como há braços, abraços.
Caleb Henrique - Viajante Literário