27 de fevereiro de 2018

[Editado] A Guerra que salvou a minha vida, de Kimberly Brubaker Bradley



Lovers, 


      Ano passado tive o prazer de ler o livro "A guerra que salvou a minha vida" e fiquei encantado com tamanha beleza e sensibilidade. Adda é uma verdadeira heroína, uma personagem que a gente deseja abraçar e proteger, ainda que seja uma garota forte.  Mesmo nos momentos em que aparenta ser tão ríspida,  vemos o quanto isso é reflexo da falta de amor - porque quando isso nos falta, não sabemos sequer receber.      Hoje, no dia em que A GUERRA QUE ME ENSINOU A VIVER chega às prateleiras das principais livrarias, decidi repostar minha crítica sobre o primeiro livro. E neste texto com certeza você encontrará motivos de sobra para querer ler não somente o início de tudo como também a continuação dele, imediatamente. 


      Publicado pela Editora Darkside, “A guerra que salvou a minha vida” apresenta um relato comovente de uma menina que passou por difíceis momentos ao lado do irmão durante a segunda guerra mundial. A heroína da história é Ada, uma garota que nasceu com um problema em um dos pés e vive uma vida de escravidão dentro de casa, onde é maltratada pela mãe que não aceita ter uma filha "aleijada". Ada não sai de casa e tudo o que sabe sobre o mundo é observado de sua janela, por onde vê as ruas do bairro e as pessoas que passam por lá. A menina é obrigada a servir a mãe, arrumar a casa, fazer o almoço e não tem direito a boa alimentação ou a trocar uma palavra com qualquer pessoa. Ela também cuida do irmão mais novo, o James, um garoto carismático, que apesar de tudo é mais bem tratado pela matriarca, que permite que ele brinque na rua porque é um garoto normal, incapaz de envergonhá-la. Quem cuida de James na maior parte do tempo é Ada, que por viver enclausurada desenvolve um sentimento de apego ao garoto, além do amor incondicional que sente por ele. Quando ficam sabendo que está para começar uma guerra e que as crianças estão sendo evacuadas do lugar onde moram, na Inglaterra, eles traçam um plano e vão embora juntos. Nesse momento Ada começa a descobrir o mundo, a beleza das coisas e sentimentos até então desconhecidos por ela. Quem diria que uma guerra poderia salvar a vida de Ada? 
Existe guerra de tudo quanto é tipo.
A história que estou contando começa quatro anos atrás, no início do verão de 1939. Naquela época a Inglaterra estava à beira de mais uma Grande Guerra, a guerra que está acontecendo agora [...] Eu tinha dez anos, [...] e não estava nem um pouco preocupada com ela ou com qualquer disputa entre os países. Pelo que contei já deve ter ficado claro que eu estava em guerra com minha mãe, mas a primeira guerra, a que travei naquele mês de junho, foio contra o meu irmão." (Pág.: 10)
      O que pode acontecer quando você não sabe quase nada sobre o mundo que existe além das paredes da própria casa e é humilhada todos os dias pela pessoa que deveria cuidar de você? Que sentimentos podem se desenvolver numa criança de dez anos, que deveria viver sua infância, mas é tratada como escrava, é maltratada e humilhada pela pessoa que deveria lhe dar amor? As consequências em resposta para cada uma dessas perguntas estão retratadas de maneira sublime nessa história tocante, que nos mostra o cenário de duas lutas: a luta entre os países e a luta interna e desesperadora que acontece na vida de Ada durante a segunda guerra.


      Narrada em primeira pessoa, a partir do relato inocente, por vezes revoltado e sensível da grande heroína da história, a narrativa de Bradley contagia e prende o leitor não somente pelo cenário e contexto histórico, como também pela personalidade muito bem construída de Ada e dos demais personagens. O perfil psicológico da personagem principal e do seu irmão e companheiro é também muito bem trabalhado de modo a despertar o sentimento de empatia no leitor e fazê-lo refletir sobre as batalhas pelas quais uma pessoa passa na vida e isso independe do momento histórico em que vive. O que é também uma grande sacada: a historia transcende o tempo, pois vivemos guerras constantes durante nossa vida. 
"A voz da Mãe ecoou na minha cabeça. Sua porcaria horrorosa! Lixo, imunda! Ninguém quer você, com esse pé horrível! Minhas mãos começaram a tremer. Porcaria. Lixo. Imunda. Eu servia pra usar os descartes da Maggie ou as roupas simples das lojas, mas não isso, não esse vestido lindo. Podia passar o dia inteiro ouvindo a Susan dizer que nunca quisera ter filhos. Mas não suportaria ouvi-la me chamar de linda. (Pág.: 158)"
      Os traumas e sentimentos de medo, de Ada, estão espalhados pelo texto. Você é capaz de identificar cada momento de tentativa de se libertar das amarras, dos sentimentos de raiva, de insatisfação da garota. Mas não é só isso. Ada não é só sentimento de medo, ela é força. A garota tem uma inteligência e força de vontade admirável. Ela cai, mas segue em frente. É persistente e corajosa. 
"Eu, desde o primeiro instante, adorei. As quedas não me assustaram. Aprender a montar era como aprender a andar. Doía, mas eu seguia em frente." (Pág.: 65)
      Importante também destacar que a autora deixa clara a importância de uma boa educação e também mostra o método de ensino de alguns professores da época, ainda visto atualmente. O incentivo à leitura também é uma constante na história, que cita algumas obras de sucesso da literatura, com destaque a Peter Pan e Alice no país das maravilhas. 
"Fui vesti-lo depois de visitar o Manteira. Sabia que a Suzan ficaria contente, e ela ficou. Escovou o meu cabelo, mas deixou-o solto. e amarrou a fita verde nova na minha cabeça. 'É a fita da Alice', ela disse. 'A garota do seu livro, a Alice, ela usa o cabelo assim.' (Pág.: 164)
      Percebam que até a cor, citada de forma tímida, tem papel importante. A cor verde representa a ESPERANÇA, algo que Ada, apesar de tudo, nunca deixou de lado. E ainda sobre Alice, a Ada tem um pouco da ousadia e inteligencia da menina de Carroll; tem a sensibilidade e o medo, mas a persistência de Alice também pode ser vista em Ada, que inclusive num dado momento dialoga com o conto no seu relato:
"A Alice perseguia um coelho que usava roupas e um relógio de bolso. Ele descia pela toca, como os coelhos que eu via nos passeios com o Manteiga. A Alice ia atrás dele e caía num lugar ao qual não pertencia, um lugar onde nada fazia sentido.
Éramos nós, pensei. O James e eu havíamos caído na toca de um coelho, na casa da Susan, onde nada mais fazia sentido." (Pág.: 165)
      A Ada também é uma criança consciente, neste momento encontrando confiança dentro de si:
"Enfim compreendi qual era a minha luta e por que eu guerreava. A Mãe não fazia ideia da forte combatente que eu havia me tornado."  (Pág.: 220)
      Com uma edição impecável, um trabalho de capa especial e totalmente dentro do contexto da história, "A guerra que salvou a minha vida" é um um grande acerto na literatura contemporânea e é vencedor de vários prêmios importantes, além de estar em primeiro lugar nos mais vendidos do New York Times. O livro também é adotado em várias escolas nos Estados Unidos. A autora já publicou outros livros sendo este o primeiro publicado também no Brasil. Bradley vive com a família numa fazenda nas Montanhas Apalaches. 

      A guerra que salvou a minha vida é um livro para a família toda. Uma história linda, delicada, tocante, especial. Sem dúvidas a Ada é uma heroína da atualidade, uma inspiração. 



9 comentários:

  1. Oi Diih
    Também li este livro ano passado e eu amei, é uma história linda e emocionante. Não vejo a hora de ler o lançamento que da continuidade a esta história. Amei as fotos.

    Beijinhos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  2. Oi, tudo bem?
    Adorei sua resenha, tão completa e tão sincera.
    Não conhecia o livro e nem a autora e de certa forma me chamou a atenção, vou anotar o nome e quem sabe no futuro fazer a leitura.

    Abraço!
    Cantinho da Lua

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  3. Oi, meu rei

    Finalmente vim ver como ficou seu cantinho. Agora sim posso ler tudo normalmente! Hahahaha
    Ficou lindo, a sua cara, bem clean e elegante. <3

    Sobre a resenha respostada, não tenho interesse no livro. Aliás, nem sabia que haveria um segundo livro. Histórias ambientadas em guerras não me atraem nem um pouquinho. E ainda tem o fato da personagem ser criança, mas uma característica que não me atrai. Rss
    Mas não duvido que seja uma história emocionante, sempre leio resenhas maravilhosas como a sua, apenas não faz meu estilo mesmo.

    Beijos
    - Tami
    http://www.meuepilogo.com

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  4. Oi Diego! Já tinha ouvido falar desse livro, mas apenas sabia que se passava no período da segunda gerra. Mas não tinha ideia de que também falaria sobre família e que teria uma mãe tão terrível. Só der ler a resenha já estou com o coração apertado pela Ada. Mas muito curiosa para ver o relacionamento com seu irmão e as aventuras dos dois quando vão embora!
    O trabalho da Darkside é sempre bonito, fico boba de ver.
    Estou louca para ler o livro e amei ler sua resenha. Beijos

    https://almde50tons.wordpress.com/

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  5. Nunca tinha ouvido falar do livro, mas a resenha está muito bacana. Simplesmente, fiquei perplexo e bastante intrigado com a com a Ada e seu relacionamento com o irmão. Agpra, para ser sincero, oq mais me chamou a atenção é a Darksise. Eles nunca dão pontos sem nó. Certamente o livro está entrando na minha lista para este ano.

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  6. Oi Diego!!
    Nossa, eu achava a capa desse livro linda sem nem imaginar que ele guardava uma história como essa. Fiquei simplesmente encantada e já estou colocando na minha listinha de futuras compras.
    Como sempre resenha e fotos impecáveis!!
    Bjs
    https://almde50tons.wordpress.com/

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  7. Eu já achava a capa do livro muito bonita e agora com essa resenha a vontade de ler ele só aumentou. Que bela resenha! parabéns!

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  8. Nunca ouvi falar do livro e adorei seu post contando um pouco sobre ele. Pretendo dar uma outra olhada dps, achei muito interessante e acho ainda q eu tbm acabe gostando do livro kk

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  9. Que resenha mais deliciosa e instigante! Já queria, agora quero mais ainda esse livro!
    Parabéns pelo blog ♥

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