20 de fevereiro de 2018

DIAS DE DESPEDIDA, DE JEFF ZENTNER


Olá, 

O que você faria se pudesse passar um último dia com alguém que você perdeu?



Carver Briggs sempre teve tudo que precisou: três melhores amigos (Mars, Blake e Eli), uma família que o apoia e uma reputação como um escritor talentoso no colégio onde estuda, em Nashville. Até que um dia ele envia uma simples mensagem de texto para um de seus amigos, Mars, que começou a respondê-la momentos antes de morrerem num acidente de carro. Agora ele não consegue parar de se culpar pelo acidente - e ele não é o único. O pai de Mars, que é um juiz poderoso na região, por exemplo, está tentando abrir um processo criminal para que as ações de Carver sejam investigadas. Mas logo o garoto encontra apoio, como da namorada do Eli , que é a única pessoa que está do lado dele no colégio; o novo terapeuta, Dr. Mendez; e a avó de Blake, que o pede para passar com Carver um "Dia de Despedida" em memória de seu neto. Com uma narrativa lírica e tocante, Jeff Zentner nos conduz numa jornada intensa sobre a perda, o luto e o sofrimento.

“Na maioria das vezes, a gente não guarda as pessoas que ama no coração porque elas nos salvaram de um afogamento ou nos tiraram de uma casa em chamas. Quase sempre, nós as guardamos no coração porque, em um milhão de formas serenas e perfeitas, elas nos salvaram da solidão.”

Carver é um personagem que sofre bastante pressão psicológica durante todo o livro, chega a sofrer inclusive ataques de pânico. Ele ainda não sabe lidar com a perda e ainda precisa processar o sentimento de culpa e medo que carrega consigo. Ele passa por muitos questionamentos porque não consegue se perdoar, nem acreditar que merece perdão, mas também sem ter certeza de que merece ser punido. 

O livro tem muitos pontos positivos. A representatividade (tem personagens LGBT, negros, de outra cultura) é um deles e ela é feita muito bem, embora de maneira sutil. O Jeff foi muito responsável ao não representar uma vivência que não é dele no personagem principal, mas de mostrá-la nos outros. Inclusive, numa conversa com um amigo querido meu, que já leu outro trabalho do autor, descobri que Jeff Zentner evoluiu muito nesse quesito porque em The Serpent King - que vai ser lançado no Brasil também pela seguinte logo mais - todos os personagens são brancos e héteros, e, apesar de cada um ter uma história que de alguma forma se afaste muito do padrão, a representatividade faz falta. Felizmente ele notou isso logo.

A escrita do Jeff é muito bonita. É madura e poética, deixando a história ainda mais bonita. Você consegue se conectar com o Carver e entender o que ele sente - é um personagem complexo por conta do que está passando nesse momento de luto, portanto o egoísmo e as bobagens que o garoto acaba cometendo pode ser compreendida. Acho que esse é um dos pontos cruciais nos livros, essa conexão com os personagens. Nesse livro, ela é mais do que necessária, pois a história é toda sobre DOR, PERDA, SOFRIMENTO e isso pede que você entenda o que o personagem está passando.

Embora o livro tenha sido satisfatório, os personagens são intrigantes e a discussão que o texto propões seja muito pertinente, há momentos em que a questão terapêutica também é um ponto alto e muito positivo na história, pois no texto isso abre as portas para o entendimento de que se permitir fazer terapia não é coisa de gente "louca" - um preconceito recorrente na sociedade, infelizmente -, mas sim uma maneira de se ajudar a encontrar respostas e viver num lugar mais confortável com quem você é e com seus sentimentos. É muito importante que pelo menos uma vez na vida você se permita fazer uma terapia.

O ROMANCE NÃO É A CURA DE NADA. Nada aqui é romantizado, mas reconheço algumas cenas que para mim soou algo um pouco longe da realidade - mas isso não é um fator que leva para longe a beleza e a qualidade da texto. É um livro que precisa ser lido, debatido, comentado. Existe realmente um culpado nessa história? O que resta para quem fica depois que nossos amores se vão? 

Dias de Despedida é um livro escrito pelo autor Jeff Zentner, publicado pela Editora Seguinte em 2017. Tem um texto que provoca o leitor a refletir, a olhar para dentro, a olhar ao que está ao redor, a se permitir colocar-se no lugar do outro.


Jeff Zentner começou a carreira escrevendo música (...) Passou a se interessar pela literatura jovem adulta depois de trabalhar como voluntário em acampamentos de rock no Tennessee. O autor já morou no Brasil, na região da Amazônia, e declarou ser apaixonado pelo país, numa entrevista para o canal É O SEGUINTE. Hoje o autor vive em Nashville com a esposa e o filho.

Um beijo com carinho,





14 comentários:

  1. Oi, Di!
    Faz tanto tempo que não leio esse tipo de livro. Mas, gosto muito das leituras que nos faz refletir e que trazem temas como a representatividade. O fato do autor ter uma escrita poética me agrada muito o que torna a experiência de leitura mais leve. Fiquei curiosa para saber o que aconteceu com o personagem..
    Beijos

    Versos e Notas

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  2. Parabéns pela resenha, ficou ótima!
    Eu me interessei pela história, parece ser bem legal.

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  3. Olá, Diego.
    Esse é um livro que tenho vontade de ler, mas não no momento. Estou fugindo de livros fortes assim hehe. Esse assunto é um que mexe com a gente porque acho que é impossível não sentir a sensação de culpa, mesmo que a razão saiba que não é culpado.

    Prefácio

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  4. Oiiiie,
    Pelo que to vendo na resenha o livro é satisfatório e apresenta grandes pontos, sobre a capa desse livro vou te falar que eu gostei bastante achei ela tão linda <3 mas eu fiquei bem curiosa pelo livro aliás eu gosto do gênero.

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  5. Eu estou gostando que estão aparecendo vários livros ótimos com representatividade e isso é tão bom. Uma pena a história não ser nenhum UAUUU, mas legal saber que você gostou da leitura :)

    www.vivendosentimentos.com.br

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  6. Oi!! Que situação difícil o do personagem, ser culpado pela morte de alguém deve ser bem difícil. Gostei do fato de ter representatividade na história. Bjos ❤

    Click Literário

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  7. Não conhecia o autor e o livro, mas sua resenha me deixou bem curiosa a respeito do livro, gostei de tocar em alguns temas polêmicos. Muita gente acha que terapia é coisa de gente louca e ter um livro que desmistifica isso é ótimo! Arrasou na resenha!

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  8. Não conhecia o livro e, apesar da ótima resenha, não sei se vou querer conhecer ainda. Concordei muito quando vc disse que parece um pouco longe da realidade... Estranho, pois a editora Seguinte é tão boa :(

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  9. Oi Di, acho que é a primeira resenha que leio desse livro e gostei do que li. Essa pegada poética é boa e a representatividade tb. Parece uma ótima leitura.

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  10. Que história interessante que nos faz meditar até onde vai esta amizade que como um vapor se transforma em odio

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  11. Oi Diego! Confesso que quando vi essa foto no seu ig, fiquei louca para ler a resenha, já que to de olho nesse livro desde o lançamento. Gostei de saber que tem representatividade, a gente ta na numa época que os autores precisam entender o quanto isso pode ser e é importante para um nicho enorme de pessoas. E acho que quando feito direito pode ganhar muitas pessoas. E também acho importante a não romantização de fatos. Eu tenho visto muitas críticas a livros que romantizam questões absurdas e isso tem sido um tiro no pé dos autores.
    Eu to muito curiosa para entender a relação dos amigos, entender como fica a cabeça de alguém que se culpa por algo que, na verdade, não dependia dele e tudo mais. Acho essa capa com um cor tão linda! Enfim...
    AMEI sua resenha. Me deixou com mais vontade de ler. Beijos

    https://almde50tons.wordpress.com/

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  12. Oi Diego, é a primeira vez que vejo algo sobre esse livro, a resenha está perfeita, ainda não conhecia o autor, gostei da capa dó livro e fiquei bem interessado na história.

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  13. Oi Diego, tudo bem?

    Já tinha visto algumas pessoas falando sobre este livro, mas ainda não tinha lido nenhuma resenha, e a sua me deixou bem curiosa. Gostei de saber que o livro retrata essa pressão psicológica e ainda mais que tem muita representatividade. Parece ser exatamente um daqueles livros que lemos e gostamos bastante, sendo excelente para debate.

    Beijos!

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  14. Não conhecia o livro, mas amei a premissa, parece ser bem o tipo de leitura que costumo gostar bastante. Amei seu post, super completinho!
    Ótima dica :)
    by: atravesdaescrita.blogspot.com

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