1 de dezembro de 2016

CONFISSÕES DE UM AMIGO IMAGINÁRIO - MICHELLE CUEVAS



Olá! ♡

Você já teve um amigo imaginário? Eu já tive vários. E com certeza todos eles estão vivos na minha memória, alguns mais do que outros, mas todos aparecem nitidamente quando fecho os olhos e relembro minha infância. Nos meus momentos de infortúnio, na falta de pode, visitar meu mundo paralelo sempre ajudou, era um lugar lindo, e todos os meus amigos preenchiam uma parte do que eu gostaria de ter ou gostaria de ser. E esse é o grande barato de alimentar o imaginário. E é sobre a beleza chamada imaginação, que Michelle Cuevas escreveu. 

Uma autobiografia por Jacques Papier.

Confissões de um amigo imaginário é um livro infanto-juvenil, publicado pela Galera Junior (selo do Grupo Editorial Record), e conta a história de Jacques, um garoto que desconfia fortemente que ninguém gosta dele, nem mesmo o cachorro da casa onde mora com sua irmã e seus pais. Ninguém nota sua presença, todos sempre precisam lembrar que ele também está ali, nem mesmo a professora dá importância quando Jacques suspende a mão para responder a alguma pergunta que ela faça. Fleur é sua irmã e companheira, a conhecedora dos seus segredos e pensamentos. Mas para surpresa de Jacques, um dia ele descobre que ela não é sua irmã de verdade e que é apenas um ser imaginário, obra da imaginação dessa garotinha doce e tão carinhosa. Neste momento, apesar de amar aquela menina que tanto lhe deu atenção, Jacques decide que quer a liberdade para ser o que ele quiser e para buscar o seu verdadeiro eu. É possível ser real quando você não existe fisicamente? Juntos, você leitor e Jacques, vão fazer uma divertida caminhada em busca do significado da vida, irá conhecer várias crianças, cada uma com sua personalidade e peculiaridade, e vai descobrir a grande maravilha, o presente especial que é a invisível maravilha de ser quem se é.

- Eu acho que o problema é - continuei - que eu tenho me perguntado qual o sentido de eu existir, se é que existe algum. Quero dizer, eu vivi oito anos de vida inteiro pensando que era uma pessoa de verdade . E depois eu soube a verdade. E agora, quando penso nisso, percebo que não quero ser o irmão imaginário de alguém. Eu acho que quero ser real." (A luz do Luar - Pág.: 65)

Uma das coisas mais bonitas que temos na vida é a capacidade de imaginar, de muitas vezes sermos criativos e colocar para fora aquilo que foi criado por alguma razão, um dos grandes exemplos disso está em "As Aventuras de Alice no país das Maravilhas", de Lewis Carroll, em que Alice vive seu sonho e aprende muito de si mesma.  Você já se perguntou por que uma criança tem um amigo imaginário? Melhor, não vou restringir isso aos pequenos, mas às pessoas no geral. Quantas vezes falamos, esbravejamos, suspiramos sozinhos ou dizemos em voz alta "eu gostaria de ser assim, de ter coragem de ir lá e fazer, de ser mais ousado..."? Você já parou para pensar que talvez nossa imaginação esteja aqui para nos lembrar de colocar para fora aquilo que somos, mas por alguma razão não temos coragem de deixar em evidência? Precisamos simplesmente SER. É isso! E talvez nossa imaginação e nossos amigos imaginários existam simplesmente para preencher uma lacuna que por algum motivo permitimos ter nas nossas vidas. 

Era uma vez um garoto que não existia de verdade. Ele vivia em uma casa em que tudo era possível , e cada canto era uma descoberta. Uma cerca viva era uma castelo. Um graveto era uma espada. Sementes de dente-de-leão eram a poeira necessária para fazer mágica. (Navegando para longe - Pág.: 81)

Em Confissões de um amigo imaginário conhecemos algumas crianças, cada uma com suas características que fazem delas especiais. Conhecemos o suficiente de suas famílias e entendemos perfeitamente as atitudes de cada personagem, através dos diálogos e discursos, que tem como ponte Jacques Papier. Com capítulos curtos, títulos intrigantes e ilustrações divertidas, a autora presenteia o leitor com uma bela e poética história sobre a importância de ser quem você é, mesmo quando ninguém está reparando em você. Ela deu vida a personagens tão ricos e carismáticos, que vale a pena destacar pelo menos um, e eu escolhi esse personagem porque ele representa a realidade de muitas crianças nesse mundo de acontecimentos instantâneos, discriminação, exclusão e bullying. 

O personagem se chama Bernard e ele é um garoto que vive se escondendo, se excluindo, tentando passar despercebido pelas pessoas e adquirindo mérito nisso. O garoto é o típico estranho da turma, criticado pelo cabelo e pelos óculos. Nunca é escolhido pela turma do futebol e é apaixonadinho por uma garota, a qual observa de longe. Quando Jacques Papier, em uma de suas missões, aparece na vida de Bernard o garoto começa a despertar, aos poucos vai aprendendo a caminhar sozinho e se torna um menino mais confiante.

Cuevas nos envolve numa história tão carismática e sensível, capaz de fazer nos sorrir em silêncio e mergulhar de cabeça na história a ponto de ler o livro em apenas um dia. E verdade seja dita, para as crianças esse livro pode funcionar perfeitamente como incentivo ao imaginário, à ideia de deixar a imaginação falar mais alto, bem como alimentar seu processo criativo. No adulto, a válvula de escape é a expressão que mais se aproxima da ideia de se desligar um pouco do mundo real e buscar energia nas possibilidades mil que nos são dadas também pela imaginação e criatividade. E dito isto, fica claro que essa é uma história para a família: as crianças podem ler, o pai a mãe, a tia, o avô também. 

Para ser honesto, eu começava a char que você ficaria boquiaberto com qualquer pessoa se você pudesse ver as partes dela que ninguém mais vê. Se você pudesse ver essas pessoas inventando musiquinhas ou fazendo caretas no espelho; se você as visse dormindo abraçadas com seus cachorros, ou parando para olhar um insetinho caminhar por um galho, ou simplesmente sendo muito diferentes e solitárias e chorando em algumas noites. Ao ver essas pessoas, vê-las realmente, você não conseguiria evitar achar que qualquer pessoa e todas as pessoas são incríveis. (As Partes Ocultas - Pág.: 146-147)

Confissões de um amigo imaginário é aquele tipo de livro que leva para a vida e faz dele seu amigo mais íntimo. Michelle Cuevas nos presenteia com uma história poética e cheia de delicadeza, que nos mostra o quanto nossas criações e a nossa imaginação revelam um pouco mais de quem somos e do que somos capaz de fazer. O livro é TOP 10 de livro infantil, do ano de 2015, da Time Magazine. 

Michele Cuevas se formou no Williams College e tem mestrado em belas artes e escrita criativa pela Universidade da Virginia, onde recebeu o Henry Hoyns Fellowship. Atualmente, se decida completamente à literatura e vive em Berkshire Country, Massachusetts. 

XOXO,
Diih ♡

28 de novembro de 2016

Magônia: “Aza Ray passou aqui”



Olá, pípol!

Feliz segunda para você que não vai fazer nada hoje e para você também que vai trabalhar ou assim como eu passar um dia inteirinho na faculdade. Porque a folga de vinte dias acabou, acho que já contei a vocês. Mas voltando ao que realmente interessa, hoje vou "falar" de  Magônia, primeiro livro de uma trilogia da autora Maria Dahvana Headley, lançado esse ano pela Galera Record.

A vida de Aza Ray está limitada por prazos que ela luta para ultrapassar. Sofrendo de uma doença rara que leva o seu nome, a garota cuja história feita de hospitais está há poucos dias de completar dezesseis anos, o que seria comum se não fosse esse o prazo que os médicos haviam lhe dado. Como se já não bastasse o medicamento que ela toma provavelmente está lhe causando efeitos colaterais, como alucinações. Vendo navios no céu e pássaros agindo estranhamente, Aza tenta levar isso para o lado racional e manter sob controle, é assim que ela é. Seu melhor amigo Jason, por quem ela começa a ter um sentimento mais profundo, tenta ajudá-la com suas dúvidas, pois ambos são estranhamente parecidos. Mas a vida que Aza costuma levar é interrompida bruscamente cinco dias antes do seu aniversário e ela é levada para Magônia, o mundo que existe acima das nuvens, de navios flutuantes e baleias-tempestade. A garota não consegue se desligar do que deixou na terra e não quer aceitar a missão para qual fora destinada, enquanto Jason não consegue acreditar que sua amiga se foi. E ele tem razões para isso. 

O livro começa nos apresentando Aza Ray Boyle, seu ponto de vista e principalmente a forma como ela convive com sua saúde frágil. Aza sofre de um mal tão raro, que este foi batizado com seu próprio nome, a "Síndrome de Azaray", já que nenhum médico conseguiu descobrir do que se tratava. E esse não é mais um "A Culpa é das estrelas". A narrativa é uma aventura dentro de uma mitologia interessante e curiosa e a doença de Aza é apenas um dos assuntos dos quais o livro trata. E falando em ACEDE, devoo dizer que além da família que a apoia, Aza conta com um amigo (seu melhor e único amigo) Jason, que, de acordo com seus relatos, é o único que não a trata como se ela tivesse uma sentença de morte sobre si (ainda que ela realmente tenha). Jason também tem seu ponto de vista no livro, é inteligente, promissor, tem manias estranhas e é criado por duas mães. A forma natural e bem balanceada que a autora aborda isso me cativou. Apesar do livro ser focado no assunto principal (a condição de vida de Aza) em certos momentos você entende como a história da família de Jason foi bem construída.



Cinco dias antes de completar 16 anos e vencer mais uma estimativa médica, Aza Ray passa por uma confusa situação (muito bem escrita, na minha opinião. Um dos momentos onde a autora conseguiu passar com excelência um ponto de emoção do livro), onde se vê separada de todos os que ama e do mundo que conhece. E é aí que conhecemos a verdadeira Magônia.

Acima das nuvens existe uma terra mágica de navios voadores, onde Aza não é mais a frágil garota enferma. Em Magônia, ela não só pode respirar como cantar. Suas canções têm poderes transformadores e, por intermédio delas, Aza pode mudar o mundo abaixo das nuvens.

Preciso dizer que a transição entre os dois momentos-chave do livro é feita de forma bem leve, em alguns momentos, ao contrário da introdução, que é um tanto maçante. Inicialmente a história com todos os seus detalhes é um tanto difícil de aturar. Mas é possível abstrair isso já que esse é um fato recorrente quando falamos do primeiro livro de uma trilogia, salvo raríssimas exceções. É bom falar também sobre a vida de Aza após essa transformação, pois ela está destinada a fazer algo grandioso (clichê?). A grande questão é que ela não se sente parte disso e não sabe se quer participar da missão a qual foi destinada nem se pode confiar em todos ao seu redor. Ao mesmo tempo ela precisa aprender a conviver com Dai, que foi incumbido de lhe treinar, mas ambos não conseguem se entender. Aza não consegue esquecer da sua família e de Jason (como esquecer de Jason, não é?). Aliás, ele também não esqueceu dela, e enquanto ela está com seus dilemas aéreos ele está utilizando todos os seus contatos e meios (lícitos ou não) para encontrá-la.

Após a leitura, a visão que tive desse livro é que falta algo. Falta algo nas explicações do mundo mágico, onde, às vezes, a informação só é jogada para nós e as coisas “acontecem porque simplesmente acontecem”. Falta algo na personalidade dos personagens também. As características mudam de forma não natural e quase podemos dividir essas personalidades em dois momentos que nada tem a ver com o fato da transformação de ambiente.


Magônia é um livro que começa devagar demais, torna-se interessante, como se tivesse um surto de adrenalina. Em seguida as coisas começam a acontecer muito rápido e então o livro vai esfriando demais no final. Não é um "grande acontecimento", não diria ser uma história marcante. Vamos aguardar a sequência, intitulada Aerie,  para ver se os personagens vão se desenvolver melhor nesta continuação e a história ganhe uma qualidade que faça dela marcante. 

XOXO,
Diih

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