3 de junho de 2016

Encrenca, Non Pratt: ‘O que fazer quando a vida vira de cabeça para baixo’?


Olá❤,
vocês!

Vamos de “Encrenca” hoje?

Não há uma pessoa no mundo que não tenha tido uma encrenca na vida alguma vez. Um problema sério na escola, dívidas sem tamanho, estilo a de Backy Bloom, uma rixa com a menina ou o garoto da escola, que quer zombar do seu amigo e você quer tomar as dores e resolver tudo! Na vida o que não falta é oportunidade de nós, seres mortais, nos metermos em alguma situação embaraçosa. Mas no caso de Hannah a encrenca é um tanto cabeluda, é de carne e osso, tem um coração batendo e vai nascer em 9 meses.


A autora da vez é a Non Pratt, uma londrina que já foi editora de livros de literatura infantil, e em 2014 lançou seu primeiro livro, que aqui no Brasil chamamos de Encrenca, lançado pela Verus Editora esse ano.

“O que fazer quando a vida vira de cabeça para baixo?”

Essa é uma resposta que Hannah tenta encontrar o tempo inteiro, desde que descobriu que está grávida. Com apenas 15 anos de idade, a garota espera um bebê e o pai é um grande segredo. A adolescente mora com a mãe, o padrasto e seus irmãos, Lola e Jay, fruto do novo casamento da mãe e tem fama de “piriguete” – como diria nós soteropolitanos – no colégio onde estuda. É o tipo de garota que flerta com todos os garotos que te interessam e até os que nem interessam tanto. Aquela garota do ensino médio que quer ser notada, que tem seu grupinho popular e definitivamente é sexy. Aaron acabou de chegar ao colégio e todos os alunos estão curiosos para saber o por quê de ele ter sido transferido e se mudado do lugar onde morava. É inteligente, simpático e guarda um segredo e uma culpa que o persegue. Ele se torna o melhor amigo de Hannah e parece não ter segundas intensões em relação a ela. De mãos dadas até o fim Hannah e Aaron vão tentar superar seus medos e confiar seus maiores segredos um ao outro, nos momentos em que mais as pessoas parecem lhes dar as costas.


Hannah Sheppard terá que viver o maior desafio de sua vida, enquanto esconde um segredo. Aaron Tyler também guarda um segredo e tudo o que deseja é consertar os erros do passado. Tudo isso poderia ser mais difícil do que parece se ambos não se conhecessem e Aaron não tivesse se oferecido para ser o “pai de mentirinha” do filho de Hannah. Tudo isso porque o colégio inteiro descobriu que a menina está grávida e todos querem saber quem é o pai, o misterioso amor da menina, que na primeira oportunidade rejeita o filho que ela espera. É preciso guardar segredo ou a encrenca vai ser maior. E o que poderá acontecer caso todo mundo do colégio descubra quem é o verdadeiro pai do bebê de Hannah?

Se você ainda alimenta alguma dúvida sobre esse livro, do tipo “Ler ou não, eis a questão”, eu sugiro que você perca o medo, confie em mim e não pense duas vezes antes de fazer essa leitura. Encrenca é um livro que até pode ser confundido com um romance bobo, dentro de uma capa linda e bem trabalhada. Mas é uma impressão totalmente equivocada. Com uma narrativa engraçada e comovente, Pratt escreveu uma história rica em detalhes, com os problemas e crises que uma garota pode se deparar durante a gestação, e nos apresenta um retrato fiel da vida de boa parte das adolescentes, através das situações vividas pela personagem e suas queixas e indagações.
Segundo a ONU, o número de adolescentes grávidas chega a 7,3 milhões e dois milhões de grávidas tem menos de 15 anos, num dado apresentado ano passado, resultado de uma pesquisa feita em 2013. Tudo indica que em 2030 o número chegue a três milhões. A Hannah faz parte dessa estatística, porque embora seja uma personagem fictícia, é a imagem de muitas adolescentes do nosso país. A importância de se escrever e publicar uma história como essa é essencial, visto que estamos sobrevivendo num cenário caótico e qualquer ato de conscientização para que se tome cuidado e proteja-se na hora da relação é bem-vinda.

Mas não é somente a gravidez na adolescência que o texto aborda. O preconceito, o valor da amizade e a família também complementam a história, que conta com uma narrativa alternada entre Hannah e Aaron. Os personagens são encantantes e a maneira como a autora guarda seus segredos é de uma competência admirável. Do começo ao fim do livro o leitor recebe pistas e até sugestões do que eles escondem, enquanto é preso por uma narrativa descolada e engraçada, com diálogos inteligentes e dolorosamente reais.

Em alguns momentos me lembrei de Rosie, de Simplesmente Acontece, da Cecelia Ahern. Não por existir algum tipo gritante de semelhança na história, mas pelo fato de ambas serem adolescentes, terem suas vidas viradas de ponta cabeça com o período de gravidez e não terem os pais do bebê por perto. Nas duas histórias também quem adquire o amor das crianças são os melhores amigos.

Mas apesar de todos os pontos positivos, senti falta da presença da família de Hannah na história. O relacionamento maternal da garota é pouco apresentado na trama e acredito que seria uma parte de suma importância, já que uma das maiores preocupações da protagonista é de que sua mãe saiba da gravidez – a mãe dela trabalha com planejamento familiar.

“Encrenca” é uma história que fala de amor, sexo e de como podemos reconhecer nossas verdadeiras amizades em meio às dificuldades. Um texto que nos mostra de maneira leve o quanto os infortúnios da vida podem sim nos ajudar a crescer e a separar as coisas que realmente valem a pena levar adiante, daquelas que merecem ficar no passado.

Espero que você se divirta e se emocione com essa história.
Bjux,

Diih.

1 de junho de 2016

‘O Quarto Dia’, Sarah Lotz – Uma viagem sem volta.


Olá, pessoas!

Me digam uma coisa, alguém aqui gostaria de ganhar uma passagem para passar o réveillon em alto mar, num cruzeiro, com uma médium famosa se apresentando para um grupo de amigos? A Sarah Lotz, tem um navio especial para apresentar a vocês. Eu aceitei a experiência, sou um dos sobreviventes – foi difícil chegar ao fim da viagem, viu! -, e acho que talvez vocês queiram saber um pouco mais sobre isso.


Sara Lotz é autora do livro Os Três, é roteirista e também apaixonada por histórias macabras. Já escreveu histórias de terror urbano e zumbis, e recentemente teve seu mais novo livro, O Quarto Dia, lançado aqui no Brasil pela Editora Arqueiro.

Desaparecido há cinco dias, o navio “O Belo Sonhador” finalmente é encontrado à deriva, no Golfo do México. Mas os 2.962 passageiros e tripulantes, simplesmente desapareceram no mar do Caribe, e não sobraram provas ou pistas do que poderia ter acontecido. Teorias da conspiração aparecem nos principais noticiários, quando as autoridades descobriram que todos os registros e gravações de bordo foram danificados. Há apenas indícios, inclusive, de uma epidemia norovírus. O que era para ser uma viagem para comemorar o réveillon e começar da melhor maneira possível o ano de 2017, acabou se transformando num pesadelo para os passageiros do grande navio.

O primeiro, o segundo e o terceiro dia foi de uma viagem tranquila. As coisas só começaram a acontecer no quarto dia, quando uma pane mecânica fez com que o navio parasse e consequentemente faltasse energia, comprometesse o sistema de comunicação e começasse a faltar alimento de qualidade para os passageiros. Um caos completo dentro de um navio que nunca apareceu na mídia com boas críticas, mas que levava num passeio em alto mar pessoas que com segredos obscuros e outras com conduta duvidosa.

Uma médium e sua assistente, um assassino, duas irmãs suicidas, um médico que carrega uma culpa pela morte de um paciente - mas que trabalha duro para salvar a vida das pessoas no navio -, uma tripulante gananciosa, um tripulante com crise de identidade e um blogueiro que deseja desmascarar a famosa médium à todo custo. Esses são alguns dos passageiros que o leitor vai conhecer mais a fundo na narrativa. Os capítulos são exclusivos para cada um, narrando suas cenas. O que essas pessoas estão fazendo no navio? Quais os segredos que eles guardam e o que eles pensam?

Lotz construiu uma história que apresenta o lado mais obscuro das pessoas, que se escondem em suas máscaras. Diante do caos e do desespero a autora apresenta os pensamentos sujos e as atitudes egoístas de cada um, diante dos problemas que estão vivendo na viagem. Entre mentiras, raiva, indignação e verdades veladas somos apresentados a um suspense, diria um terror psicológico - e por que não um thriller também? -, que tenta envolver o leitor numa história sombria, mas que infelizmente não cumpre seu papel diante da premissa que se mostra interessante.

O Quarto dia tem uma narrativa lenta – pouco consistente -, e não apresenta fatos empolgantes ou um suspense que prenda o leitor. A premissa é convidativa, mas o desenvolvimento da história causa desconforto, marcado por detalhes desnecessários, o que faz com que a leitura seja cansativa, sem surpresas, e, com o perdão da palavra, chata.


Quem assistiu ao filme O Navio Fantasma com certeza vai encontrar semelhanças na construção dessa história. Afinal, quem não lembra do ser mortal que habita o navio italiano desaparecido há mais de quarenta anos, encontrado na costa do Alasca? Trazendo para O Belo Sonhador, a grande aposta nesse cenário assustador fica por conta de Celine, uma médium famosa, que após ser alvo de um escândalo decide fazer uma promoção, escolhendo algumas pessoas para uma viagem com ela – essas pessoas são chamadas de Amigos – para assistir as suas apresentações no Lounge Sonhador das Estrelas.

No entanto, se já a narrativa propõe e não cumpre, a mulher também não faz seu papel valer. E por falar em personagens, não há brilho em nenhum deles. Seus segredos seriam uma grande cartada para uma narrativa mais rica e impressionante se fossem bem trabalhados e estruturados com mais cuidado na história. Poderia salvar a narrativa rasa que o livro tem.

Em Suma, O Quarto dia é uma obra que poderia SER, mas NÃO é. Não entendeu? Essa é a sensação que você tem quando termina de ler uma história que promete ser instigante, mas não faz por onde. É um livro que se torna confuso, com um final desnecessário, sem diálogos ricos e King que me perdoe, mas não é um livro excelente, é apenas um livro bom, para ler sem maiores expectativas. 

Bjux a até mais, pípol!
Diih 

30 de maio de 2016

‘Nós’ – David Nicholls: Um texto simples, sustentado por uma narrativa impecável.



Olá
todo mundo!

Atenção, atenção porque hoje tem meu amado David Nicholls, marcando presença mais uma vez aqui no Blog, dessa vez com seu livro intitulado NÓS (Us). Lançado em 2015 pela Editora Intrínseca, é um livro que afirma a escrita primorosa de Nicholls e reforça sua narrativa bem-humorada em meio ao drama.


Douglas Petersen é um homem metódico, se arrisca pouco e dificilmente se permite ao novo. Ele é bioquímico, tem 54 anos e se depara com a situação do termino do seu casamento. Connie é uma mulher que gosta de liberdade, de inovar e encarar o novo. Entre os dois, diferenças gritantes ajudam na decisão que ela toma de se separar do marido, com quem tem um filho adolescente prestes a sair de casa porque acabou de entrar na faculdade. Mas numa tentativa de fazer com que tudo dê certo, o casal decide encarar uma viagem em família – que já havia sido programada – pela Europa, onde terá a chance de reconquistar a esposa e conseguir uma boa relação com seu filho, Albie, um típico adolescente rebelde, que por conta das constantes brigas com o pai durante a viagem, acaba seguindo seu próprio destino. A viagem é frustrada e muda totalmente de rumo quando o bioquímico decide procurar o adolescente, viajando pela Alemanha, Itália e Espanha, enquanto sua ainda esposa volta para casa.

Nós tem uma história contada em primeira pessoa, sob a visão de Douglas, e durante a narrativa o leitor é levado a vários momentos da vida do personagem com sua esposa, desde quando e como se conheceram até o momento atual, representado pela crise pela qual estão passando. Entre reflexões e suposições, Petersen vai listando atitudes suas que podem ter levado a esposa a querer a separação. Ele é um homem sensível, muito bem organizado, tradicional demais e antiquado demais também. Em contrapartida, Connie é o total oposto dele, assim como o filho, e a mulher se depara com o cansaço de uma relação sem muitas novidades. E por falar em falta de novidade, infelizmente Nós não apresenta novidade alguma na narrativa, para competir com seu trabalho anterior.  

Não há o que discutir sobre a escrita impecável do Nicholls e sua competência com a narrativa. Dificilmente se perde, não deixa pontas soltas e coloca detalhes em seus devidos lugares. No entanto, o autor apostou numa narrativa linear, sem muitas reviravoltas. A história toda se passa numa viagem, em que uma família que deveria estar unida parece viver uma guerra. Além disso, os personagens não são nem um pouco cativantes.


Petersen é irritante, submisso e bobo demais a ponto de se humilhar e fazer tudo o que sua esposa quer para agradar a ela e ao filho. Connie é uma mulher intolerante, antipática e rude, assim como Albie, que, rebeldia à parte, é um poço de grosseria também. A história apresenta apenas os três personagens, que dão vida ao título genérico dado ao livro e mesmo quando surgem os secundários são apenas para criar uma ponte para novas reflexões. É uma narrativa voltada para a família e a situação pela qual estão vivendo: a separação de um casal e a conquista de uma boa relação entre pai e filho. 


Nós é um bom livro e apresenta também uma boa história. Apesar da mesmice, empolga o leitor com reflexões inteligentes, acerca das relações familiares e amorosas, e mesmo tendo um texto atraente não há elementos que faça dela uma história inesquecível.

Um Beijo para vocês!
❤ Diih.

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