13 de outubro de 2014

'Resenha' - A Máquina de Contar Histórias, de Maurício Gomyde



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“Amor recortado entre aberturas e fechamentos de capítulos”. E em cada página um número significativo de palavras que formam frases; palavras que se desenvolvem em parágrafos e se transformam em emoções que acompanham você até o último momento. Essa é a sensação do leitor enquanto lê A máquina de contar histórias, do autor Maurício Gomyde.  



No dia do lançamento de seu novo e tão esperado livro, o autor best-seller Vinícius Becker perde sua esposa, que morre na cama de um hospital, na cidade de São Paulo. A ausência do autor na vida da família V durante tanto tempo e no dia da morte de Viviana, sua companheira, provocou um sentimento de insatisfação e ódio em casa. Sem amigos, sem a esposa e sem o carinho da filha dentro do próprio lar, o escritor agora tem um grande desafio pela frente: reconquistar o espaço no coração dos familiares e o amor das filhas.
Com personagens e suas características bem traçadas, a história se faz um drama familiar, envolvido com o amor pela literatura. Alguns pontos da história nos levam a comparar o livro com o filme baseado na obra do autor Nichollas Sparks, Um amor para recordar, em que a personagem principal sofre de uma doença fatal, - “a doença estúpida que tira do mundo as melhores pessoas”, a leucemia - e nos últimos momentos tem seus desejos realizados pelo homem por quem se apaixona. Além disso, na história de Sparks, há também o conflito de um personagem com o pai, por conta da ausência dele.
 Narrado em terceira pessoa, a metalinguagem utilizada por Gomyde carrega o leitor e o coloca num lugar confortável dentro da leitura. É uma narrativa com linguagem simples, de fácil entendimento. As personagens são trabalhadas de maneira cuidadosa, de modo que até o nome delas ajuda a compôr o sentimentalismo das situações, permitindo ao leitor adicionar mais uma leitura além do que está escrito naquela obra. Por exemplo, a filha mais velha, Valentina,  é uma garota de personalidade forte, geniosa e“valente”, que sofre com a perda da mãe e com o rancor que alimenta pelo pai tão ausente desde a sua infância. Vida, a fadinha, é a doçura e preenchimento do vácuo deixado por uma vida que já se foi. 
Num dado momento a história se torna superficial. A dose exagerada de drama faz com que a narrativa fique rasa e o personagem principal muito forçado. Vinícius se coloca num lugar abaixo da filha e, por vezes, me perguntei se a palavra em meio aos problemas era mesmo ‘culpa’. Será que não bastava apenas se posicionar como um pai e deixar de se sentir o vilão da história, a destruição da família? 
A tentativa de misturar música e história dessa vez não me convenceu nem me tocou, como nos trabalhos anteriores. Ao meu ver essa canção ficou um tanto perdida na história já que foi citada e tão pouco explorada no enredo. Porém, como todo bom autor que se presa, depois de passarmos por uma fase do livro que se torna ‘enjoativa’ - pelos detalhes que citei acima -, o autor nos presenteia com uma surpresa e nos devolve, de maneira sublime, uma generosa pitada de empolgação.  
Gomyde nos envolve numa história em que provocar as emoções e a sensibilidade do leitor – mais do que nunca! - é a chave principal para entender, através da literatura, que a base familiar é o alicerce para o crescimento pessoal e profissional de cada um; que o amor verdadeiro nunca morre e que nunca é tarde para recomeçar e reinventar-se diante de uma nova vida.


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Recomendo que façam essa ótima leitura e preparem os lenços. Se tratando do assunto amor e família, palavras e Maurício Gomyde, a emoção é garantida.
2014 © Diego França

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