Disseram
que ele iria se apaixonar ao menos uma vez. Diziam que ele falaria de amor e
mandaria flores a alguém. E que ele choraria a perda de um dia, sentiria a
tensão de uma briga, viveria feliz com uma mensagem de bom dia.
E
então ele sairia para trabalhar bem vestido; lindo de terno e gravata. Faria o
seu trabalho direito – fazia muito bem feito -, cheio de entusiasmo. Ele
chegaria a sua casa às seis da noite, se lembraria de uma canção e logo ligaria
para sua amada e diria o quanto a música o fez se lembrar dela. Seria muito diferente da vida que levava.
Sairia das noites perdidas em farras, da quantidade de mulheres ao seu redor e
todas as bebidas. Seria diferente de não saber qual emprego queria e para onde
correr quando se sentisse triste.
Para
ele se apaixonar estava fora de seus planos, diga-se de passagem, fúteis.
Estava encantado com o mundo onde vivia, com a vida que levava e suas roupas
despojadas. O telefone não parava de tocar e seus finais de semana sempre
estavam preenchidos. Sua mãe ligava pedindo uma visita que, quando acontecia,
não durava mais de trinta minutos. Nunca fora um romântico incorrigível e a rua
era sua casa. Jurava amor e fazia a mesma promessa a todas as mulheres que
conhecia, depois sumia.
Quando
conhecesse a ‘mulher de sua vida’, tudo seria diferente. Viveria um mundo sem
regras, mas arrumado; teria uma correria responsável e sadia e uma parte da
tarde, durante a semana, calma. Faria
das tardes de finais de semana sua madrugada e o passeio a dois, o melhor
programa de final de noite. Eles se casariam, teriam filhos e ele seria um pai
animado, desastrado e feliz.
Disseram
que ele iria olhar para alguém. Disseram que a moça ao lado, apaixonada por
ele, sonhava com isso todos os dias. Disseram a ela que o amor é lindo, é belo
e perfeito; disseram que ele iria se apaixonar, mas esqueceram de contar a ela
que, talvez, não.
© Diego França 2013*
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