6 de março de 2013

Aquele apaixonado




Disseram que ele iria se apaixonar ao menos uma vez. Diziam que ele falaria de amor e mandaria flores a alguém. E que ele choraria a perda de um dia, sentiria a tensão de uma briga, viveria feliz com uma mensagem de bom dia.

E então ele sairia para trabalhar bem vestido; lindo de terno e gravata. Faria o seu trabalho direito – fazia muito bem feito -, cheio de entusiasmo. Ele chegaria a sua casa às seis da noite, se lembraria de uma canção e logo ligaria para sua amada e diria o quanto a música o fez se lembrar dela.  Seria muito diferente da vida que levava. Sairia das noites perdidas em farras, da quantidade de mulheres ao seu redor e todas as bebidas. Seria diferente de não saber qual emprego queria e para onde correr quando se sentisse triste.

Para ele se apaixonar estava fora de seus planos, diga-se de passagem, fúteis. Estava encantado com o mundo onde vivia, com a vida que levava e suas roupas despojadas. O telefone não parava de tocar e seus finais de semana sempre estavam preenchidos. Sua mãe ligava pedindo uma visita que, quando acontecia, não durava mais de trinta minutos. Nunca fora um romântico incorrigível e a rua era sua casa. Jurava amor e fazia a mesma promessa a todas as mulheres que conhecia, depois sumia.

Quando conhecesse a ‘mulher de sua vida’, tudo seria diferente. Viveria um mundo sem regras, mas arrumado; teria uma correria responsável e sadia e uma parte da tarde, durante a semana, calma.  Faria das tardes de finais de semana sua madrugada e o passeio a dois, o melhor programa de final de noite. Eles se casariam, teriam filhos e ele seria um pai animado, desastrado e feliz.

Disseram que ele iria olhar para alguém. Disseram que a moça ao lado, apaixonada por ele, sonhava com isso todos os dias. Disseram a ela que o amor é lindo, é belo e perfeito; disseram que ele iria se apaixonar, mas esqueceram de contar a ela que, talvez, não.

© Diego França 2013*


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